Andrea Dworkin

feminista e escritora estadunidense

Andrea Dworkin (Nova Jérsei, 26 de setembro de 1946 - Washington, 9 de abril de 2005), foi uma escritora feminista norte-americana muito conhecida por sua ferrenha oposição à pornografia, que ela ligou ao estupro e outras formas de violência contra as mulheres.

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Andrea Dworkin em outros projetos:

Obras editar

Woman Hating editar

  • A natureza da opressão das mulheres é única: as mulheres são oprimidas enquanto mulheres, sem considerações de classe ou raça; algumas mulheres têm acesso à riqueza significativa, mas essa riqueza não significa poder; mulheres podem ser encontradas em todo lugar, mas não possuem ou controlam nenhum território apreciável; mulheres vivem com aqueles que as oprimem, dormem com eles, têm seus filhos — nós estamos entrelaçadas, desesperadamente parece, nas entranhas do mecanismo e do modo de vida que é danoso para nós.
    • Woman Hating, cap. 9, p. 23, E.P. Dutton, Nova Iorque (1974)

Our Blood editar

  • Homens que querem ajudar as mulheres em nossa luta por liberdade e justiça deviam compreender que não é extraordinariamente importante para nós que eles aprendam a chorar; é importante para nós que eles parem os crimes de violência contra nós.
    • Discurso pronunciado na Universidade Estadual de Nova Iorque, Stony Brook, em 1 de março de 1975. "The Rape Atrocity and the Boy Next Door," cap. 4, Our Blood (1976)
  • Toda dominação pessoal, psicológica, social e institucionalizada nessa terra pode ser remetida a uma mesma fonte original: as identidades fálicas dos homens.
    • Discurso pronunciado na Universidade Estadual de Nova Iorque, Stony Brook, em 1 de março de 1975. "The Rape Atrocity and the Boy Next Door," cap. 4, Our Blood (1976)
  • Nesta sociedade, a norma da masculinidade é agressão fálica. Sexualidade masculina é, por definição, intensamente e rigidamente fálica. A identidade de um homem é situada na sua concepção de si mesmo como o possuidor de um falo; o valor de um homem é localizado no orgulho dele em identidade fálica. A característica principal da identidade fálica é que o valor é inteiramente contingente na posse de um falo. Já que os homens não têm nenhum outro critério de valor, nenhuma outra noção de identidade, aquelas que não possuem falos não são reconhecidas como completamente humanas.
    • Discurso pronunciado na Universidade Estadual de Nova Iorque, Stony Brook, em 1 de março de 1975. "The Rape Atrocity and the Boy Next Door," cap. 4, Our Blood (1976)
  • No tempo em que somos mulheres, medo é tão familiar para nós como ar. É o nosso elemento. Nós vivemos nele, nós inalamos ele, nós exalamos ele, e na maioria do tempo nós nem notamos isso. Ao invés de "Eu tenho medo", nós dizemos, "Eu não quero", ou "Eu não sei como", ou "Eu não posso".
    • Discurso pronunciado na Faculdade de Queens, Cidade Universitária de Nova Iorque, em 12 de março de 1975. "The Sexual Politics of Fear and Courage", cap. 5, Our Blood (1976)
  • O fato que todas nós somos treinadas da infância em diante para sermos mães significa que nós todas somos treinadas para devotar nossas vidas aos homens, quer eles sejam nossos filhos ou não; que todas nós somos treinadas a forçar outras mulheres a exemplificar a falta de qualidades que caracteriza a construção cultural da feminilidade.
    • Discurso pronunciado na Faculdade de Queens, Cidade Universitária de Nova Iorque, em 12 de março de 1975. "The Sexual Politics of Fear and Courage", cap. 5, Our Blood (1976)
  • Para uma mãe, o projeto de criar um menino é o projeto mais satisfatório que ela pode esperar. Ela pode assistí-lo, enquanto uma criança, brincar com os jogos que ela não era autorizada a brincar; ela pode investir nele suas ideias, aspirações, ambições, e valores — ou tudo o que tenha sobrado delas; ela pode assistir ao seu filho, que veio da sua carne e cuja vida foi sustentada pelo seu trabalho e devoção, personificá-la no mundo. Então, enquanto o projeto de criar um menino é repleto de ambivalência e leva inevitavelmente à amargura, ele é o único projeto que permite a uma mulher ser — ser através do seu filho, viver por meio do seu filho.
    • Discurso pronunciado na Faculdade de Queens, Cidade Universitária de Nova Iorque, em 12 de março de 1975. "The Sexual Politics of Fear and Courage", cap. 5, Our Blood (1976)
  • Um homem pode ser um herói se ele é um cientista, ou um soldado, ou um viciado em drogas, ou um locutor, ou um medíocre político mesquinho. Um homem pode ser um herói porque ele sofre e se desespera; ou porque ele pensa logicamente e analiticamente; ou porque ele é "sensível"; ou porque ele é cruel. Riqueza estabelece um homem como um herói, assim como a pobreza. Virtualmente qualquer circunstância na vida de um homem o tornará um herói para algum grupo de pessoas e tem uma versão mítica na cultura — na literatura, arte, teatro, ou nos jornais diários.
    • Discurso pronunciado na Faculdade de Queens, Cidade Universitária de Nova Iorque, em 12 de março de 1975. "The Sexual Politics of Fear and Courage", cap. 5, Our Blood (1976)
  • Sexismo é a fundação onde toda tirania é construída. Toda forma social de hierarquia e abuso é moldada a partir da dominação do macho sobre a fêmea.
    • Discurso pronunciado na Faculdade de Boston em 5 de abril de 1975. "Redefining Nonviolence", cap. 6, Our Blood (1976)
  • A genialidade de qualquer sistema escravista se encontra nas dinâmicas que isolam os escravos uns dos outros, que ocultam a realidade de uma condição comum, e tornam inconcebível a rebelião unida contra o opressor.
    • Discurso pronunciado para a Organização Nacional para as Mulheres, Washington, DC, em 23 de agosto de 1975. "Our Blood: The Slavery of Women in Amerika", cap. 8, Our Blood (1976)
  • O desejo de dominação é uma besta voraz. Nunca há corpos quentes suficientes para saciar sua fome monstruosa. Uma vez viva, essa besta cresce e cresce, se alimentando de toda vida ao seu redor, percorrendo a terra para encontrar novas fontes de nutrição. Essa besta vive em cada homem que refestela-se na servidão feminina.
    • Discurso pronunciado para a Organização Nacional para as Mulheres, Washington, DC, em 23 de agosto de 1975. "Our Blood: The Slavery of Women in Amerika", cap. 8, Our Blood (1976)
  • O sadismo sexual efetiva a identidade masculina. Mulheres são torturadas, chicoteadas, e acorrentadas; mulheres são amarradas e amordaçadas, marcadas e queimadas, cortadas com facas e fios; mulheres são urinadas e defecadas; agulhas em brasa são cravadas nos peitos, ossos são quebrados, retos são rasgados, bocas são devastadas, bocetas são brutalmente caceteadas por pênis após pênis, vibrador após vibrador — e tudo isto para estabelecer no macho um sentido viável de seu valor próprio.
    • Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)
  • O conceito masculino utópico que é a premissa da pornografia é este — já que a masculinidade é estabelecida e confirmada contra os corpos brutalizados das mulheres, os homens não precisam agredir uns aos outros; em outras palavras, as mulheres absorvem a agressão masculina de modo que os homens fiquem a salvo disto.
    • Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)
  • Os rituais de sadismo masculino contra os corpos das mulheres são os meios pelos quais a agressão masculina é socializada de modo que um homem possa associar-se com outros homens sem o perigo iminente de agressão masculina contra sua própria pessoa. O projeto erótico comum de destruir mulheres torna possível aos homens se unirem em uma irmandade; este projeto é a única base firme e confiável para cooperação entre machos e todo laço masculino é baseado nisto.
    • Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)
  • Nós pensamos que vivemos em uma sociedade heterossexual porque a maioria dos homens está fixada nas mulheres como objetos sexuais; mas, de fato, nós vivemos em uma sociedade homossexual porque todas as transações críveis de poder, autoridade, e autenticidade realizam-se entre homens; todas as transações baseadas em igualdade e individualidade realizam-se entre homens. Homens são reais; portanto, todo relacionamento real acontece entre homens; toda comunicação real acontece entre homens; toda reciprocidade real acontece entre homens; toda mutualidade real acontece entre homens.
    • Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)
  • O amor romântico, tanto na pornografia quanto na vida real, é a mítica celebração da negação feminina. Para uma mulher, o amor é definido como sua boa vontade para se submeter a sua própria aniquilação... A prova de amor é que ela está disposta a ser destruída por aquele que ela ama, pelo seu bem. Para as mulheres, o amor é sempre auto-sacrifício, sacrifício de sua identidade, desejo e integridade de seu corpo; para que satisfaça e se redima diante da masculinidade de seu amado.
    • Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)
  • A masculinidade só pode ser experimentada, alcançada, reconhecida, e personificada em oposição à feminilidade. Quando os homens colocam sexo, violência, e morte como verdades eróticas elementares, eles pretendem dizer isto — que sexo, ou foder, é o ato que os possibilita experimentarem sua própria realidade, ou identidade, ou masculinidade o mais concretamente; que violência, ou sadismo, é o meio pelo qual ele efetiva essa realidade, ou identidade, ou masculinidade; e que a morte, ou a negação, ou a inexistência, ou a contaminação pela fêmea é o que eles arriscam cada vez que penetram no que eles imaginam ser o vazio do buraco da fêmea.
    • Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)
  • Somente quando a masculinidade estiver morta — e ela perecerá quando a feminilidade devastada não mais sustentá-la — somente então nós saberemos o que é sermos livres.
    • Discurso pronunciado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Cambridge, em 26 de setembro de 1975. "The Root Cause", cap. 9, Our Blood (1976)

Right-Wing Women editar

  • Enquanto fofoca entre mulheres é universalmente ridicularizada como baixa e trivial, fofoca entre homens, especialmente se é sobre mulheres, é chamada de teoria, ou ideia, ou fato.
    • Right-Wing Women, cap. 1 (1978)
  • Inteligência selvagem abomina qualquer mundo estreito; e o mundo das mulheres deve permanecer estreito, ou a mulher é uma fora da lei. Nenhuma mulher poderia ser Nietzsche ou Rimbaud sem terminar em um prostíbulo ou lobotomizada.
    • Right-Wing Women, cap. 2 (1978)
  • Feminismo é odiado porque as mulheres são odiadas. Antifeminismo é uma expressão direta de misoginia; é a defesa política do ódio às mulheres.
    • Right-Wing Women, cap. 6 (1978)
  • Feminismo requer precisamente o que a misoginia destrói nas mulheres: bravura incontestável em confrontar o poder masculino. Apesar da impossibilidade disso, há tal bravura: essas mulheres existem, em alguns períodos milhões e milhões delas.
    • Right-Wing Women, Anti-feminism (1978)
  • Antifeminismo está também operando sempre que qualquer grupo político está pronto para sacrificar um grupo de mulheres, uma facção, algumas mulheres, alguns tipos de mulheres, para qualquer elemento de opressão de classe-sexual: para a pornografia, para o estupro, para a agressão, para a exploração econômica, para a exploração reprodutiva, para a prostituição. Há mulheres por todo o espectro político masculino-definido, incluindo as duas extremidades dele, prontas para sacrificar algumas mulheres, geralmente não elas mesmas, para os próstibulos ou os hospícios. O sacrifício é profundamente antifeminista; ele é também profundamente imoral...
    • Right-Wing Women, Anti-feminism (1978)
  • Feministas têm uma visão das mulheres, até das mulheres, como seres humanos individuais; e esta visão aniquila o sistema de polaridade de gênero em que os homens são superiores e poderosos. Esta não é uma noção burguesa de individualidade; não é uma noção auto-indulgente de individualidade; ela é o reconhecimento que cada ser humano vive uma vida separada em um corpo separado e morre sozinho. Na proposição da "individualidade de cada alma humana", feministas propõem que mulheres não são o seu sexo; nem seu sexo mais alguma coisinha — um aditivo liberal de personalidade, por exemplo; mas que cada vida — incluindo a vida de cada mulher — deve ser da própria pessoa, não predeterminada antes do nascimento dela por idéias totalitárias sobre a sua natureza e sua função, nem sujeita a tutela por alguma classe mais poderosa, nem determinada coletivamente, mas desenvolvida por ela mesma, para si mesma. Francamente, ninguém sabe muito o que feministas pretendem; a ideia de mulheres não definidas por sexo e reprodução é anátema ou desconcertante. Ela é a mais simples idéia revolucionária já concebida, e a mais desprezada.
    • Right-Wing Women, The Coming Gynocide (1978)

Pornography, Men Possessing Women editar

  • A mulher não nasce: ela é feita. No fazer, sua humanidade é destruída. Ela se torna símbolo disto, símbolo daquilo: mãe da terra, puta do universo; mas ela nunca se torna ela mesma porque é proibido para ela fazê-lo.
    • Pornography: Men Possessing Women (1979)
  • Casamento como uma instituição desenvolveu-se do estupro como uma prática. Estupro, originalmente definido como abdução, tornou-se casamento por captura. Casamento significava que a tomada seria estendida em tempo, para ser não somente de uso mas de posse, ou propriedade.
    • Pornography: Men Possessing Women (1979)
  • Homens são recompensados por aprender a prática da violência em virtualmente qualquer esfera de atividade, por dinheiro, admiração, reconhecimento, respeito, e genuflexão de outros honrando a sagrada e provada masculinidade deles. Na cultura masculina, policiais são heróicos e assim também são os criminosos; machos que impõem regras são heróicos e assim também são aqueles que as violam.
    • Pornography: Men Possessing Women (1979)
  • Homens têm definido os parâmetros de todo assunto. Todos os argumentos feministas, por mais radicais em intenção ou consequência, estão com ou contra afirmações ou premissas implícitas no sistema masculino, que são feitas acreditáveis ou autênticas através do poder dos homens de nomear.
    • Pornography: Men Possessing Women (1979)
  • Homens caracterizam pornografia como algo mental porque as mentes deles, os pensamentos deles, os sonhos deles, as fantasias deles, são mais reais para eles que os corpos ou vidas das mulheres; de fato, homens têm usado seu poder social para caracterizar um comércio de mulheres de 10$ bilhões ao ano como fantasia.
    • Pornography: Men Possessing Women (1979)
  • Pornografia é a sexualidade essencial do poder masculino: de ódio, de posse, de hierarquia; de sadismo, de dominância.
    • Pornography: Men Possessing Women (1979)
  • Pornografia materializa supremacia masculina. Ela é o DNA de dominância masculina. Cada regra do abuso sexual, cada nuance do sadismo sexual, cada estrada ou caminho secundário de exploração sexual, está codificada nela.
    • Pornography: Men Possessing Women (1979)
  • Pornografia é a destruição orquestrada de corpos e almas de mulheres; estupro, agressão, incesto, e prostituição a impulsionam; desumanização e sadismo caracterizam-na; ela é a guerra sobre as mulheres, violações em série na dignidade, identidade, e valor humano; ela é tirania. Cada mulher que tem sobrevivido sabe da experiência de sua própria vida que pornografia é escravidão — a mulher presa na imagem usada sobre a mulher presa onde quer que ele tenha aprisionado ela.
    • Pornography: Men Possessing Women (1979)

Letters from a War Zone editar

  • As mulheres são uma população escravizada — a safra que nós colhemos são crianças, os campos em que nós trabalhamos são casas. As mulheres são forçadas a se submeterem em atos sexuais com homens que violam a integridade porque a religião universal — desprezo por mulheres — tem como seu primeiro mandamento que as mulheres existam puramente como forragem sexual para os homens.
    • Discurso pronunciado na Universidade de Massachusetts em 1977. "Pornography: The New Terrorism," publicado em Letters From a War Zone (1981)
  • Feministas são frequentemente questionadas se pornografia causa estupro. O fato é que estupro e prostituição originaram e continuam a originar a pornografia. Politicamente, culturalmente, socialmente, sexualmente, e economicamente, estupro e prostituição geram pornografia; e a pornografia depende do estupro e da prostituição de mulheres para sua existência contínua.
  • Pornografia é usada no estupro — para planejá-lo, para executá-lo, para coreografá-lo, para gerar a excitação em cometer o ato.
    • Testemunho antes da Representação Geral da Comissão em Pornografia de Nova Iorque (1986)
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