Jaime de Magalhães Lima
poeta português (1859-1936)
Jaime de Magalhães Lima (Aveiro, 15 de Outubro de 1859 — Eixo (Aveiro), 26 de Fevereiro de 1936) foi um pensador, poeta, ensaísta e crítico literário português.
Jaime de Magalhães Lima |
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- "Considerando friamente, sem a mínima paixão, as lições que em quinze anos de prática aprendi quanto às vantagens e desvantagens do regime vegetariano, em consciência tenho de dizer que nem um só dos argumentos em sua oposição se mostra subsistente no meu espírito. Toda a dúvida de eficácia se desvaneceu e toda a presunção favorável se confirmou. […] A crença na carne não vale mais nem menos como significação do estado do espírito, nem tem melhor explicação racional, do que a fé nos amuletos que defendem do quebranto, as figas e a oração às relíquias."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, Março de 1912, p. 7.
- "Qualquer dama de mãos mimosas que trinca com delicia uma costeleta coberta de pão e embalsamada em loiro, em cravo, em salsa, em cebola, pimenta e limão, empalidece de náusea sentindo o cheiro do açougue, considera imundície um pedaço de carne crua nos seus vestidos e foge mais depressa da praça do peixe do que da montureira que aduba a horta."
- - Jaime de Magalhães Lima, O vegetarismo e a moralidade das raças, 14 de Junho de 1912, p. 7
- "A verdade, há muito sabida e apregoada, mas da qual não fui capaz de tirar rapidamente todas as ilações a que ela conduz, é que as carnes só por si não têm sabor que as torne apetecíveis; para se suportarem e apreciarem, carecem de usar de um verdadeiro arsenal de substâncias vegetais e minerais. A pimenta, o cravo, o louro, a salsa, a cebola, a mostarda, o alho, a hortelã, os cominhos e o vinagre e o vinho e o azeite e o sal, tudo será pouco para disfarçar certa náusea que a carne estreme provoca."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, Fevereiro de 1918, p. 37.
- "Aqui, como de resto em todos os movimentos sociais, não tivessem surgido individualidades fortes que traduzissem, coordenassem e convertessem em actividade eficaz as tendências vagas que andavam no ânimo de muitos, e o vegetarismo não passaria dum sonho tão louvado em conversações poéticas e humanitárias como atraiçoado em banquetes pantagruélicos e carnificinas ingentes."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, III Volume, Fevereiro de 1913, p. 458.
- "Cada vez me convenço mais de que o vegetarismo não é sistema de cura de padecimentos físicos ou o capricho de cismáticos e extravagantes. Muito longe disso e muito superior a isso, é uma questão moral e estética fundamental, ao mesmo tempo instrumento e sinal da capacidade das raças, condição imprescindível da sua nobreza, progresso e dignidade."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, III Volume, Janeiro de 1913, p. 452.
- "Lembraremos agora uma outra circunstância, não menos notável e universal – não há vegetarismo, por toda a parte em que ele se tem propagado, que tendo começado por uma questão de regime dietético, simples processo de alimentação e de nutrição orgânica, não acabasse por trazer consigo uma transformação profunda de todo o modo de ser físico e moral dos que o seguem."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, III Volume, Fevereiro de 1913, p. 459.
- "Convençamo-nos de que o vegetarismo é um sinal precioso, apenas um aspecto duma renovação social profunda; aceitemo-lo em todas as suas consequências e vejamos nos seus benefícios os frutos elementares da grande aspiração de alegria e paz entre os homens e sobre a terra para que a humanidade ansiosamente se encaminha."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, III Volume, Fevereiro de 1913, p. 459.
- "Cada um de nós tem um só coração pulsando da mesma forma, com o mesmo ritmo, ou se encontre perante um filho do seu sangue angustiado de dores, ou depare com um trabalhador desfalecido de fadiga e indigência, ou assista ao esquartejar dum animal que momentos antes brincava cheio de vida."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, IV Volume, Nº2, Abril de 1913, p. 34.
- "Quando realmente soubermos dar aos nossos filhos um coração, o vegetarismo parecerá o mais fácil e o mais cativante dos regimes; e as delícias de hoje serão as repugnâncias de amanhã."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, IV Volume, Nº2, Abril de 1913, p. 35.
- "Tem o vegetarismo uma qualidade singular: é que sendo calmante para os que o usam, é bastas vezes irritante para os que o aborrecem e o combatem, mesmo sem o terem experimentado. Aquece ao rubro os inimigos, só pelo crime de lhes representar a privação de manjares que, na ira com que eles tentam defendê-los, parecem a própria substância da sua alma."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado,IV Volume, p. 266.
- "E se a subtileza de uma gula sanguinolenta incorrigível quiser distinguir entre piedade e necessidade, fazendo entrar o carnivorismo no rol das crueldades indispensáveis à vida humana, não deixaremos de lhe lembrar que também a pena de morte e a tortura foram indispensáveis à boa ordem e à saúde das sociedades e tinham atrás de si um arsenal de justificações, qual delas a mais poderosa, e todas tão lógicas e científicas como é científica e lógica a defesa actual dos matadouros e açougues municipais e domésticos."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, Janeiro de 1914, p. 4.
- "Leão Tolstoi foi um adepto e um apóstolo do vegetarismo. E não é pouco nem insignificante que um tal espírito e tão sublimado coração perfilhasse e praticasse essa doutrina, que a inércia moral e o poder do vício desprezam ou escarnecem na cegueira própria da sua particular estreiteza."
- - Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, II Volume, Março de 1911, pp. 2-4.