"Ser ou não ser, eis a questão. Acaso é mais nobre a cerviz curvar aos golpes da ultrajosa fortuna, ou já lutando extenso mar vencer de acerbos males?

Morrer, dormir, não mais. Em sono apenas que as angústias se extinguem e à carne a herança de nossa dor eternamente acaba, sim, cabe ao homem suspirar por ele.

Morrer, dormir. Dormir? Sonhar, quem sabe!

Ai, eis a duvida. Ao perpétuo sono, quando o lado mortal despido houvermos, que sonhos hão de vir? Pesá-los cumpre. Essa a razão que os lutuosos dias alonga do infortúnio.

Quem do tempo sofrer quisera ultrajes e castigos, injúrias da opressão, baldões do orgulho, do mal prezado amor choradas mágoas, das leis a inércia, dos mandões a afronta, e o vão desdém que de rasteiras almas o paciente mérito recebe? Quem, se na ponta da despida lâmina lhe acenará o descanso? Quem ao peso de uma vida de enfados e misérias quereria gemer, se não sentira terror de alguma não sabida coisa que aguarda o homem para lá da morte, esse eterno país misterioso, donde um viajor sequer há regressado?

Este só pensamento enleia o homem, este nos leva a suportar as dores já sabidas de nós, em vez de abrimos caminhos aos males que o futuro esconde, e a todos acovarda a consciência.

Assim, da reflexão à luz mortiça, a viva cor da decisão desmaia; e o firme, essencial cometimento que esta idéia abalou, desvia o curso e perde-se, até de ação perder o nome."



"Teus olhos são meus livros, que livros há melhor, em que melhor se leia a página do amor?

Flores me são teus lábios, onde há mais bela flor, em que melhor se beba o bálsamo do amor?"