Os Maias

romance de Eça de Queirós

Os Maias é uma das obras mais conhecidas do escritor português Eça de Queirós. O livro foi publicado no Porto em 1888. A obra ocupa-se da história de uma família (Maia) ao longo de três gerações, centrando-se depois na última com a história de amor incestuoso entre Carlos da Maia e Maria Eduarda.


“Se não aparecerem mulheres, importam-se, que é em Portugal para tudo o recurso natural. Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilos, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssima, com os direitos de alfândega:e é tudo em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas...”

- João da Ega

- Ninguém faz nada - disse Carlos espreguiçando-se. - Tu, por exemplo, que fazes?
Cruges, depois de um silêncio, rosnou encolhendo os ombros:
- Se eu fizesse uma boa ópera, quem é que ma representava?
- E se o Ega fizesse um belo livro, quem é que lho lia?
O maestro terminou por dizer:
. Isto é um país impossível... Parece-me que também vou tomar café.


- Falhámos a vida, menino! - Creio que sim.... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se: «Vou ser assim, porque a beleza está em ser assim.» E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Ás vezes melhor, mas sempre diferente."


"Não valia a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na Terra - porque tudo se resolve, como já ensinara o sábio do «Eclesiastes», em desilusão e poeira."


"- Que raiva ter esquecido o paiozinho! Enfim, acabou-se. Ao menos assentámos a teoria definitiva da existência. Com efeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para alguma coisa.
Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras:
- Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro, nem para o poder...
A lanterna vermelha do americano, ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
- Ainda o apanhamos!
- Ainda o apanhamos!
De novo a lanterna deslizou e fugiu. Então, para apanhar o americano, os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela Rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia."

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