Mariana Ianelli (São Paulo, SP, 17 de outubro de 1979) é uma poeta, ensaísta, cronista e crítica literária brasileira [1].

Mariana Ianelli
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Crônicas

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  • "Que bom seria tirar licença de existir de vez em quando, discretamente desaparecer por uns dias sem por isso ganhar fama de melancólico".
- Do breu da toca do ouriço, in Breves Anotações sobre um tigre, Porto Alegre: Ardotempo, 2013, p. 35.
  • "Mas tudo o que se fala sobre o júbilo é pouco, muito pouco fora do seu acontecimento. O júbilo acontece livre e no silêncio. É uma alegria rara, que perdura, um prazer de melodia quando irrompe, quando arrebata e transverbera um corpo. Não se pode apanhá-lo numa palavra".
- Breve anotação sobre um tigre, in Breves Anotações sobre um tigre, Porto Alegre: Ardotempo, 2013, p. 86.
  • "Leonard Cohen canta para o vento porque o vento é amigo do seu espírito de pluma. Ele sabe que os insetos são como os místicos por mal distinguirem entre a vida e a morte".
- Quem é Leonard Cohen, in Breves Anotações sobre um tigre, Porto Alegre: Ardotempo, 2013, p. 91.
  • "O que a vida afastou uma biblioteca reconcilia, de modo que Sartre pode agora dividir pacificamente espaço de alguns centímetros com Merleau Ponty e Camus, García Marquez pode topar com Vargas Llosa, e Saramago ter Lobo Antunes como um bom vizinho".
- Sete mil vidas, in Breves Anotações sobre um tigre, Porto Alegre: Ardotempo, 2013, pp. 103-104.
  • "Amo as noites por isso, por essa miragem de navegação. É quando vigora outro tempo, o tempo da crisálida, da lua amarela, o tempo do hibisco se fazendo atrás dos galhos. Enquanto os gatos saem para caçar mariposas, a cidade desaparece debaixo da cerração".
- Mensagem na garrafa, in Breves Anotações sobre um tigre, Porto Alegre: Ardotempo, 2013, p. 31.
  • "Porque a paz, a paz reina mesmo é no além-túmulo. Do lado de cá, temos esta coisa selvagem, sombria, que é a sede de sangue, uma sede tamanha que às vezes faz pensar se não chegará o dia em que nenhum motivo de guerra, nenhuma causa política, religiosa ou social serão tão explícitos quanto a pura vontade de matar".
- O jogo dos anjos da morte, in Breves Anotações sobre um tigre, Porto Alegre: Ardotempo, 2013, p. 31.

Poemas

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  • "Pus no teu sonho o meu espaço, / Nos teus horrores não despertados. / Devaneava, pensamento em êxtase, / Debruçada sobre a tua eternidade".
- Cassiana, in Treva Alvorada, (Editora Iluminuras, 2010).
  • "Por delicadeza / Devia cada um resolver seu vestígio, / Não deixar o corpo a esmo, / Atravessado na passagem, / Sem desejo, sem enigma".
- Pietà, in Treva Alvorada, (Editora Iluminuras, 2010).
  • "Feito um verme / Decompondo ceticismo / Em força indômita, / Preparo e deito essa flor / No teu caminho / Para quando o teu corpo / (tão quebrantável quanto o meu) / For sozinho pastorear / Seus demônios no vazio".
- Flor do Ofício, in Treva Alvorada, (Editora Iluminuras, 2010).
  • "Fina medula sobre a terra, / Quando canto, / Sonho que flutuo sobre um pélago, / Sonhar é o meu trabalho".
- Cântico, in Treva Alvorada, (Editora Iluminuras, 2010).
  • "Noite após noite eles vêm, / Esse foi o prometido, / Dividir o pão do dia, a cara magra, / Olhos que já não acreditam".
- Pacto, in Treva Alvorada, (Editora Iluminuras, 2010).
  • "Cultivamos rituais silenciosos, / Temos dentro de nós a alma do mundo. / Fomos feitos para a solidão, / A mesma que sente um animal / Ao largar o seu rebanho / E esperar a morte suavemente".
- Filhos do Fogo, in Fazer Silêncio, (Editora Iluminuras, 2005).
  • "Somos aquilo que pensamos, / destemor e honestidade. / O mais que é sonho apenas preenche / os nossos cadernos fantásticos".
- Arqueologia Sagrada, in Fazer Silêncio, (Editora Iluminuras, 2005).
  • "O amor se apressa, se desespera, / Trágico de tanta alegria. / Por ele surgem o escarlate / E o lastro de estandarte sob a terra. / Por ele se abre e se desfolha a tua rosa / No vento arauto das despedidas".
- Estrela da Terra, in "Fazer Silêncio", (Editora Iluminuras, 2005).
  • "Na assembleia interior do verbo sem origem / Davam-se as mãos o louco, o mestre e o pontífice. / Foste senhora desse verbo / Porque o invocaste como quem o possuísse."
- Em memória de Hilda Hilst, in "Fazer Silêncio", (Editora Iluminuras, 2005).
  • "Nossos poemas possíveis estontearam / na saúde da boca, na cabeça madura. / Pobres autores de nós, que sabemos".
- Duas Chagas, in "Duas Chagas", (Editora Iluminuras, 2001)
  • "Não parecerá contigo, mas tu te habituarás./ Uma angústia amadurecida / no rosto que te admite, / uma ruptura com o sempre".
- Ausente, in "Duas Chagas", (Editora Iluminuras, 2001)
  • "Porque é sempre uma ponte, / Um banco de jardim, um navio: / Pequeno mundo de viagens prometidas, / Sem outro regresso que partir".
- Do Adeus, in "Almádena", (Editora Iluminuras, 2007)
  • "O campo limpo, / A vida refeita, / Alguém virá para ser o primeiro / A falar novamente - e escrever - / Por sobre o jazigo das línguas".
- Da Liberdade, in "Almádena", (Editora Iluminuras, 2007)
  • "Pela incerteza essencial / Sobre mim mesma, / E estas palavras / Desde há pouco sem proveito, / Entranha, mistério, vereda / - Eu agradeço".
- Canto de Ofício, in "Almádena", (Editora Iluminuras, 2007)
  • "Eu escrevi a minha desventura. / Uma única noite em dez anos / E o teu poder sobre mim estava consumado".
- Eu escrevi a minha desventura, in "Passagens", (Editora Iluminuras, 2003)
  • "Ave degolada é a tua memória, / Inocência ressentida de abandono, / Grande mentira imperdoada, / Brasa que resiste ainda, / Chuva de cinzas num mar que não acaba".
- Ave degolada é a tua memória, in "Passagens", (Editora Iluminuras, 2003)
  • "Para honrar tua vontade, festejamos. / Esse amor rente à boca nos ensina / A crer no tempo da eternidade, / Num espaço em que a matéria é luz, enfim, / E onde o temor da morte se destrói".
- In Para honrar tua vontade, festejamos, In "Passagens", (Editora Iluminuras, 2003)
  • "O amor, até o amor existe, / Um lunático mendicante que vadia pela terra / À espera de outra chance -".
- Miragem, in "O Amor e Depois", (Editora Iluminuras, 2012)
  • "Que dessa multidão, desse rubor de sumo / E segredo de florestas / Se encham os teus olhos, / E só então se esfumem, e só então se fechem".
- Os teus olhos, in "O Amor e Depois", (Editora Iluminuras, 2012)
  • "O desafio é quanto pode durar o teu sorriso / Contra toda a tua escória, as tuas derrotas, / No fragor dos estilhaços, algum brilho".
- Desafio, in "O Amor e Depois", (Editora Iluminuras, 2012)
  • "O amor devia ser / mas uma fortaleza fecha-se / em anéis tantos, / com um sério exército e seu balaço, / que o amor não é".
- Continência, in "Trajetória de Antes", (Editora Iluminuras, 1999)
  • "Viajo num estouro de luz / que te queima, te arregaça. / Eu tenho o destino dos homens. / Fora de ti, quebrado o pacto, / te encontro uma segunda vez".
- Trajetória de Antes, in "Trajetória de Antes", (Editora Iluminuras, 1999)
  • "Alguém acasalou as tuas mãos / no peito desabrochado / quando reuniste contigo / teus pais e todos os filhos / para o legado da tua virgindade. / Talvez céticos / talvez tomados de feitiço / aceitamos te possuir / te fazer crescer em nós, / distribuída com sigilo / defendida, oculta, / uma dura saudade".
- Acalanto para Cassiana, in "Trajetória de Antes", (Editora Iluminuras, 1999)
  • "Te puseram sem mãos / para não tentares agarrá-los na partida / (...) / e agora não te concedem nem ao menos / o consolo de uma carta / que venha lá de casa / remedando o divórcio / com o pretexto de um sofisma / de uma delicada explicação".
- No teu exílio, in "Trajetória de Antes", (Editora Iluminuras, 1999)
  • “Todas as noites os mortos cobram suas canções, / a espera é cheia de surdos acontecimentos".
- In Tempo de Voltar, (Editora Ardotempo, 2016)
  • “O cão que te povoa e me povoa / na noite se regozija com a lua e fulgura. / É um canto que não se habitua a morrer”.
- In Tempo de Voltar, (Editora Ardotempo, 2016)
  • “Ao menos um de nós é o outro filho, / o andarilho irmão que foi banido, / e outra vida vem do fundo de um poço,/ uma flecha cruza um mundo sem divisas”.
- In Tempo de Voltar, (Editora Ardotempo, 2016)
  • "Em corpo de oração volta o teu corpo / (esse que não se quebrou nem sequer foi tocado) / e continua a ser o bojo de uma grande mão / com flores e augúrios de boa viagem sua jangada".
- In Tempo de Voltar, (Editora Ardotempo, 2016)
  • “...isso de amar com palavras / não chega aos bichos que somos / sem pejo lambendo-se ao sol / as bocas do corpo, a carne viva”.
- In Tempo de Voltar, (Editora Ardotempo, 2016)
  • “Alguém esteve aqui /já não está / mas este calor na pele / das coisas, ainda”.
- In Tempo de Voltar, (Editora Ardotempo, 2016)
  • “hoje, hoje a lua é um acontecimento, / há um perfume de casa nos teus cabelos, / há uma flor-de-maio que rebenta em julho / e um cacho de uvas vermelhas lavadas / brilhando num prato que é pura concupiscência”.
- In Tempo de Voltar, (Editora Ardotempo, 2016)
  • “Uma hora existe / na vida incógnita dos desaparecidos / em que os ataca uma vontade de carta / notícia pouca, por nada / (as palavras graves já todas prescritas)”.
- In Tempo de Voltar, (Editora Ardotempo, 2016)
  • “Violento é o céu sobre um mundo sem divisas / todos os campos já visitados e sofridos / um corpo limpo de ódio, sem nojo, sem ironia: / olhai os lírios do campo, olhai os campos da sangria”.
- In Tempo de Voltar, (Editora Ardotempo, 2016)
  • DESAFIO
Um último olhar para os canteiros repisados,
Ainda isso te comove -
São coisas familiares que retornam,
Pequenas pedras, lâmpadas de um caminho,
Uma trilha sob o arco da folhagem
Como se apesar de tudo os mesmos passos,
A mesma ronda, o mesmo afogueado abrigo.
Provando o rumor dos interiores,
As cores sóbrias, o lado gótico da vida,
Pouco a pouco perdendo o fogo e o viço,
O desafio é quanto pode durar o teu sorriso
Contra toda a tua escória, as tuas derrotas,
No fragor dos estilhaços, algum brilho.

(In O amor e Depois, São Paulo: Iluminuras, 2012)

  • “O homem que disse, uma vez, sabia: / Nascer é mesmo muito comprido. / Nascer, meu amor, não termina nunca”.
- In Canções Meninas, (Editora Ardotempo, 2019)



Referências