Elis Regina: diferenças entre revisões

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* "O [[Zimbo Trio]] estava começando sua carreira e participava de um programa chamado Gente, na TV Record, apresentado por [[Manoel Carlos]]. Esse programa dele era um ''talk show'' , estilo o programa do [[Jô Soares]], e o Zimbo fazia a parte musical dos programas e acompanhava os artistas que por lá se apresentavam. Um dia o Manoel chegou para mim e disse que iríamos receber uma menina do Rio Grande do Sul, que diziam que cantava bem e que o Zimbo deveria acompanhá-la em um número musical. Isso era março de 1964. Foi muito engraçado... Lembro que Elis chegou, sentou-se no banco do piano e eu perguntei: ''O que você vai cantar?''. Ela olhou bem para mim e disse ''Você''. Ela falei: ''Não pode, porque eu já sou noivo e comprometido''. Ela ficou vesga e disse ''Amilton! Eu estou falando de uma música'', como se já me conhecesse faz tempo. Aí perguntei se ela havia trazido a partitura da música, porque eu ainda não conhecia essa composição. Ela disse que não, mas que ela iria cantarolar e eu tirava o arranjo. Mas ela falou isso com uma convicção, parecia que ela já tinha anos de carreira. Então ela começou ''Você/ Manhã de tudo meu/ Você/ Que cedo entardeceu/'', sugerindo como já seria a jogada da música, a entonação, o contracanto... E de repente eu estava tocando uma música que nunca havia escutado. Elis cantou e encantou. Ela fez uma coreografia, já era muito esperta no palco. Na hora me chamou atenção. Nós acabamos ficando amigos.
 
: Logo a seguir, apareceu um convite para o Zimbo se apresentar no Peru, onde nossa disco estava fazendo muito sucesso. Nessa viagem a gente poderia levar um cantor, nos deram um lista com vários cantores famosos, mas nós preferimos levar Elis. O cartaz do show acabou ficando ''Zimbo Trio e una cantante'', porque ninguém conhecia ela ainda. Ela já estava fazendo os shows dos estudantes em São Paulo, mas foi a primeira viagem internacional dela. O repertório que apresentamos no Peru era o que tinha de novo na música: Chegança, Esse mundo é meu, Zumbi... Ela estava lançando [[Edu Lobo]]. Foi o casamento perfeito. O Zimbo estava com uma proposta diferente da bossa nova, algo extrovertido e Elis veio com essa proposta também.
 
: Nós pegamos o bom da bossa nova e começamos a tocar música brasileira, ao invés de temas jazzísticos. Tudo isso culminou no Fino da Bossa. A proposta inicial do programa era ter Elis, [[Zimbo Trio]] e [[Wilson Simonal]], mas ele não pôde participar devido a um contrato com a TV Tupi. Então resolveram chamar o [[Jair Rodrigues]]. O Fino da Bossa foi um programa de altíssimo nível, por ali passou só a nata da música brasileira. Foi uma época de ouro da música. No programa, o Zimbo só poderia acompanhar a Elis ou ela com outro convidado, nós não acompanhávamos os outros artistas. Então, nós fizemos todos os primeiros arranjos dos sucessos dela. Infelizmente não podíamos gravar com ela, pois éramos de gravadoras diferentes. Só tivemos autorização para gravar um disco, o Fino do Fino. A Elis era muito ciumenta, não gostava que a gente se apresentasse com outros cantores. A [[Elizeth Cardoso]] pediu para o [[Paulo Machado de Carvalho]], dono da TV Record, que o Zimbo Trio a acompanhasse no programa dela, a Elis ficou furiosa, mas teve que engolir.
 
: Ela ficava nervosa quando aparecia alguma cantora e fazia sucesso. Eu falava para ela, não pode ser assim, só você quer fazer sucesso... Como foi o caso da [[Claudette Soares]] quando lançou Primavera ou [[Alaíde Costa]] com Onde Está Você... Com a Claudia foi pior, elas brigaram no palco, pois a Elis percebeu que ela tinha um grande potencial vocal. Isso gerou um problema entre a gente, eu cheguei a intervir, puro ciúmes. Ela também detestava se alguém viesse com os primeiros discos dela, ela renegava aquilo.
 
: O processo de renovação do Fino da Bossa era impressionante. Nós éramos a vanguarda. [[Hermeto Pascoal]] subiu num palco de TV pela primeira vez, [[Ari Toledo]] e suas piadas, o [[Milton Nascimento]]... Puxa, ninguém entendia as músicas dele. Eu fiz os primeiros arranjos de Canção do Sal. A [[Nara Leão]] esnobou o Milton. Eu marquei com ela para apresentar o Milton e ela simplesmente não apareceu, mas Elis o lançou.
 
: Depois do Fino da Bossa cada um tomou um rumo na carreira, o que era preciso. Nos encontramos novamente no final de década de 70, em um show beneficente no Jockey Club de São Paulo. Na primeira parte do show, Elis cantou acompanhada pelo Zimbo e na música Corrida de Jangada fizemos a passagem para o grupo do [[César Camargo Mariano]]. Foi sensacional porque era bem diferente a Elis cantando com a gente e com o César. Com o Zimbo, a Elis era o jazz de Nova York e com o César era o jazz de Los Angeles. Era outro balanço, outro suíngue.
 
: A Elis era um inteligência musical. Ela batia o olho na letra e ''bolava'' como ela iria interpretar aquela canção. Ela tinha um material privilegiado, era muito afinada. Era um cavalo vencedor do Jockey, concorrendo com o burro do padeiro da esquina. Com todo o respeito às outras cantoras. Até hoje é a melhor. É a diferença entre o [[Pelé]] e os demais jogadores. Pode ter alguém muito bom, mas como o [[Pelé]], Elis era boa em tudo."
:- ''[[Amilton Godoy]], pianista e faz parte do conjunto [[Zimbo Trio]].''
 
* "Eu comecei a trabalhar com Elis em 1980, era início da temporada do show Saudades de Brasil, que estreou no Canecão, no Rio de Janeiro. Então ela me convidou para fazer a assessoria de imprensa e ser secretária particular dela. Como todo mundo era de São Paulo - os músicos, bailarinos e atores - todo mundo teve que ''mudar'' para o Rio de janeiro, foi uma caravana de paulistas para o Rio de Janeiro. O César foi com o jipe dele e a Elis dirigindo um carro conversível que ela tinha. E foi aquela farra pela estrada Rio-Santos, paramos todos para almoçar em Parati, foi muito divertido.
 
: No Rio, ficamos em apartamentos alugados pelo Canecão, em Copacabana, e nos finais de semana, digo, segunda e terça-feira para nós, íamos todos para o apartamento da Elis em Ipanema e ficávamos vendo filmes, ela fazia jantares...
 
: Ela era a mãezona de todo mundo, queria todo mundo debaixo da asa dela. Essa época ela estava ficando muito em casa, pois o show consumia muito dela, eram duas horas de espetáculo com dança e tudo mais, ela saia acabada do show. As vezes, todo mundo ia dançar na boate Noites Cariocas ou comer na churrascaria Plataforma, aí ela gostava de juntar as mesas com o [[Tom Jobim]] e com a [[Miúcha]] e ficava aquela mesa enorme, de 60 pessoas, todo mundo rindo e conversando.
 
:Ela também tinha um mal humor, ela dizia que ''se infernava'', mas isso acontecia porque a Elis era um pessoa muito justa, tinha suas convicções e numa discussão não tinha para ninguém, se ela entrava ela ia até o fim de detonava a pessoa. Por vezes ela era muito insistente com as idéias dela e chegava até ser chata, acho que era o lado pisciano dela, essa jeito bem eloqüente de ser. Mas durava dois minutos, ela não guardava rancor.
 
: Elis também era muito amorosa com os seus fãs, o camarim dela era praticamente invadido, as filas eram enormes e ela sempre queria atender os amigos e pacientemente atendia aos fãs também, conversava com eles e ficava meio constrangida, pois os fãs abraçavam, beijavam e ela não sabia nem quem era a pessoa e ficava muito tímida com isso, ficava estrábica quando alguém fazia elogios. O Saudades do Brasil foi um trabalho de Hércules para Elis, pois era muito cansativo e ela já não era nenhum menina, já tinha três filhos.
 
: Durante o show começaram os conflitos no casamento com o César, mas Elis nunca deixou isso transparecer. Ela podia estar arrasada no camarim, mas quando começava o show tudo mudava, ela tirava forças não sei de onde. Uma vez ela disse que o palco era como um parto, depois que você coloca a cabeça e começa a sair, tem que ir até o fim, alguém te empurra e você vai.
 
: Também trabalhei com ela no Trem Azul e foi a mesma coisa, um período bem difícil da vida dela, mas sempre trabalhando muito e cuidando da casa e dos filhos. Nessa época também ajudei a Elis a separar as músicas para o disco que ela estava preparando. Ela recebia sacos e mais sacos com fitas e fazia questão de ouvir todas. Lembro que ela escolheu uma música do [[Nathan Marques]] e uma outra muito bonita chamada Sonora Garoa, mas ela estava muito nervosa pelo fato de ser o primeiro disco, depois de muito tempo, sem o César. Ficar sem o César pesou muito para ela.
 
: Minhas últimas lembranças de Elis são muito bonitas. A primeira é do Natal de 1981, quando ela colocou uma bolsa vermelha na cabeça e deu um corrente de ouro para cada músico, que ela chamava de ''os sete músicos de ouro''. Foi a última vez que eu vi ela muito feliz, cantando, brincando. A outra cena que guardo na memória é de uma tarde que eu cheguei na casa dela e ela estava tomando chá com a [[Maria Rita]], que estava sentada no chão, contando histórias para a mãe. Elis deitou no colo dela e disse que a [[Maria Rita]] contava histórias como um sábio chinês. Foi muito bonito, porque Elis acabou dormindo no colo da filha. E a última vez que vi Elis, ela estava sentada no chão da sala, muito nervosa, fumando muito, e pedindo para eu resolver a questão das matrículas do Pedro e da [[Maria Rita]] e me deu uma carta para eu levar na escola, dizendo o que ela esperava do colégio, um texto lindo. Era uma mulher cheia de preocupação, não era e estrela que todos conheciam. Foi a nossa despedida."
:- ''[[Celina Silva]], jornalista.''
 
* "O meu primeiro encontro com Elis foi através de [[Roberto Menescal]], em 1972. Eu já estava decidido a voltar para Brasília, para terminar a minha faculdade. Eu estava muito desiludido com a música, tinha tido uma passagem negativa por São Paulo. Menescal mostrou para Elis uma fita que eu tinha mandado com 4 músicas. De imediato Elis incluiu as 4 músicas no show: Mucuripe, Cavalo Ferro, Moto 1 e Noves Fora. Depois eu também fiz para ela um canto de cordel, uma canção bem nordestina que ela também colocou no show. Ela caiu do céu, mudou minha vida.
 
: Eu acabei indo morar na casa dela e do Ronaldo. Logo depois, ela se separou de Ronaldo e ficou um pouco chateada comigo, porque eu não tomei partido de ninguém. Ela havia gravado as quatro músicas para entrar no disco de 1972, mas por conta disso só lançou Mucuripe. Gostaria de ter ouvido a gravação dela para Moto 1, pois no show era um arraso... Não sei se essa gravação ainda existe. Por causa da gravação de Mucuripe eu passei a ser assediado pelos outros cantores. Elis metia a boca, lascou. Tive mais de vinte músicas gravadas em 72, tudo por conta da Elis. A gente cantava muito em casa, eu acordava e ela já pegava o violão e pedia para eu cantar. Mostrava muitas músicas dos autores lá do Ceará. Lembro do Milton Nascimento aparecer na casa dela com o disco Clube da Esquina. Nós três ouvimos o disco juntos pela primeira vez. Elis ficou louca com o som dos meninos.
: Fomos amigos durante toda a vida dela, ela sempre demonstrou uma carinho muito grande por mim. Nosso último encontro em São Paulo foi emocionante, mas eu senti que ela já não estava bem. A Elis não tinha nenhum preconceito musical, ela escutava todo mundo. Ela tinha um prazer imenso de descobrir novos talentos. Com aquela extensão, com aquela voz, um timbre brasileirríssimo... Como o de [[Gal Costa]], mas Elis jogava mais com as interpretações das músicas. Foi um grande exemplo para mim, porque eu não tenho nenhum preconceito, canto com todo mundo, gravo com todo mundo... Sou um seguidor dela.
 
: Que as outras cantoras se mirem em Elis, que abram o leque para todos os tipos de compositores e que não fiquem querendo gravar só os grandes medalhões da MPB."
: Fomos amigos durante toda a vida dela, ela sempre demonstrou uma carinho muito grande por mim. Nosso último encontro em São Paulo foi emocionante, mas eu senti que ela já não estava bem. A Elis não tinha nenhum preconceito musical, ela escutava todo mundo. Ela tinha um prazer imenso de descobrir novos talentos. Com aquela extensão, com aquela voz, um timbre brasileirríssimo... Como o de [[Gal Costa]], mas Elis jogava mais com as interpretações das músicas. Foi um grande exemplo para mim, porque eu não tenho nenhum preconceito, canto com todo mundo, gravo com todo mundo... Sou um seguidor dela.
 
: Que as outras cantoras se mirem em Elis, que abram o leque para todos os tipos de compositores e que não fiquem querendo gravar só os grandes medalhões da MPB."
:- ''[[Fagner]], cantor e compositor.''
 
* "Eu conheci Elis no Rio Grande do Sul, no começo da década de 60, onde eu fazia programa de rádio e de TV e por incrível que pareça, a Elis era locutora e também cantava. Quando eu a ouvi cantar pela primeira vez fiquei perplexo com a voz dela, com a interpretação. Eu sempre falava para Elis que ela tinha uma voz linda, que ela tinha que ir para o Rio ou para São Paulo.
 
: Eu deixei de fazer esse programa no Sul e aí nós só voltamos a nos encontrar em São Paulo. Elis lembrava de mim e ficamos amigos. Ela estava um pouco perdida quando chegou em São Paulo. Inclusive, eu a levei no meu médico para ela tratar um problema de saúde. Depois veio a época dos programas na TV Record. Ela apresentava o Fino da Bossa e eu o Corte Rayol Show.
:Eu deixei de fazer esse programa no Sul e aí nós só voltamos a nos encontrar em São Paulo. Elis lembrava de mim e ficamos amigos. Ela estava um pouco perdida quando chegou em São Paulo. Inclusive, eu a levei no meu médico para ela tratar um problema de saúde. Depois veio a época dos programas na TV Record. Ela apresentava o Fino da Bossa e eu o Corte Rayol Show.

:Cantamos juntos por diversas vezes, no meu programa e no programa dela também. Houve um momento inesquecível para mim que foi no Show do Dia 7, nós cantamos juntos a música Somewhere, para uma platéia de duas mil pessoas. Fomos acompanhados apenas por um violão e pelo conjutno vocal [[O Quarteto]]. Cantamos de joelhos essa música. O público todo em pé, aplaudindo, não deixa a gente sair do palco. Tivemos que bisar o número e no fim do bis, Elis chorou muito. Ela era por demais emotiva, não só na música, mas na vida também. Elis era muito intensa.
 
: Cantamos outras músicas juntos como Carinhoso, Upa Neguinho, Das Rosas. Entre o meu programa e o Fino da Bossa, ao contrário do que aconteceu com a Jovem Guarda, nunca ouve disputa ou rivalidade. Nós ficamos muito próximos um do outro nessa época e tivemos até um ''namorico'' que foi capa de revistas. Ela tinha o apelido de Pimentinha, mas comigo ela nunca foi agressiva ou mal humorada. Acho que esse temperamento explosivo era uma barreira dela, porque ela era uma pessoa muito insegura. Até hoje tenho muito carinho e respeito por Elis.
: Sou fã incondicional dela. Digo que Elis é e não era, porque o verdadeiro artista permanece através da sua obra. Ela era avançada para sua época. Suas músicas e suas interpretações são atuais até hoje."
 
: Sou fã incondicional dela. Digo que Elis é e não era, porque o verdadeiro artista permanece através da sua obra. Ela era avançada para sua época. Suas músicas e suas interpretações são atuais até hoje."
:- ''[[Agnaldo Rayol]], cantor.''
 
* "Em 1974, Elis estava montando uma nova banda para acompanhá-la e o [[Luiz Chaves]], baixista do [[Zimbo Trio]], me indicou. Comecei acompanhando ela numa temporada de shows pela região sul e eu acabei sendo aprovado, acabei me encaixando no que Elis e o [[César Camargo Mariano]] queriam. Acabei participando do disco de 1974, um dos meus favoritos, que tem músicas e arranjos lindíssimos.
 
: No mesmo ano, participei do show do álbum Elis & Tom. Depois fiz Falso Brilhante, Transversal do Tempo, Saudades do Brasil e Trem Azul, o último show dela que eu acabei assumindo a direção musical, pois Elis havia se separado do César. Eu só não participei do Essa Mulher, de 1979. A Elis e o César haviam formado uma banda para tocar no Festival de Montreaux e a idéia era prosseguir com essa banda, porém ela acabou se desfazendo e uma banda nova teve que ser montada às pressas e eu acabei ficando de fora, pois eu estava tocando com o [[Ivan Lins]]. Foram oito anos trabalhando com Elis.
: Musicalmente para mim, atuar do lado de Elis foi um mestrado. Todo músico da MPB gostaria de ter tocado com ela. Ela era completamente moderna e arrojada, ela incentivava a criatividade dos músicos, dava liberdade total para a gente criar. A cada show o grupo se superava no palco, nunca era igual ao ensaio. Um desafiava o outro musicalmente e Elis dava essa liberdade porque ela não tinha medo nenhum, ela segurava a barra e gostava de ver a banda ''quebrando tudo'' no palco. Quando dava tempo, nós ensaiávamos muito, como no caso do Falso Brilhante, que teve até aulas de expressão corporal. Elis investia, gastava tudo que tinha, pois sempre acreditava que ia dar certo.
 
: Também tive oportunidade de conviver muito com Elis pessoa, como amiga. Ela sempre queria que eu ficasse hospedado com ela e com o César quando fazíamos temporadas em outros estados. Tinha muita amizade, eu ia na casa dela, eles vinham para a minha. A gente cozinhava, fazia churrascos, cervejas, porres, risos, choros... Era muito legal. Tenho até hoje fitas cassetes que ela gravava e dava para eu ouvir, coisas importantes de [[Quincy Jones]], por exemplo, que naquela época era muito difícil de alguém ter. Ela me apresentou toda essa gente, pois quando eu fui tocar com Elis eu era um ''baileiro'', tocava na noite.
: *Musicalmente para mim, atuar do lado de Elis foi um mestrado. Todo músico da MPB gostaria de ter tocado com ela. Ela era completamentec:mpletamente moderna e arrojada, ela incentivava a criatividade dos músicos, dava liberdade total para a gente criar. A cada show o grupo se superava no palco, nunca era igual ao ensaio. Um desafiava o outro musicalmente e Elis dava essa liberdade porque ela não tinha medo nenhum, ela segurava a barra e gostava de ver a banda ''quebrando tudo'' no palco. Quando dava tempo, nós ensaiávamos muito, como no caso do Falso Brilhante, que teve até aulas de expressão corporal. Elis investia, gastava tudo que tinha, pois sempre acreditava que ia dar certo.
: As vezes, cantávamos depois do show no hotel. Quando não tinha mais ninguém no bar, porque Elis era muito tímida fora do palco, ela ficava cantando com o César no piano... Ela cantava blues, jazz... Outro feito dela era brigar pelos músicos. Se hoje os músicos recebem direitos conexos, têm que agradecer a Elis. Ela ajudou a fundar as primeiras associações dos músicos e sempre defendeu que os discos deveriam sair numerados da fábrica.
 
: Tive a sorte de ter duas músicas minhas, A Dama do Apocalipse e Saia Dessa, gravadas por ela e até hoje isso me envaidece muito. Eu estava preparando o disco dela de 1982, estávamos escolhendo as músicas e eu ia fazer as bases e depois escolheríamos dois ou mais arranjadores para terminar o disco.
: Também tive oportunidade de conviver muito com Elis pessoa, como amiga. Ela sempre queria que eu ficasse hospedado com ela e com o César quando fazíamos temporadas em outros estados. Tinha muita amizade, eu ia na casa dela, eles vinham para a minha. A gente cozinhava, fazia churrascos, cervejas, porres, risos, choros... Era muito legal. Tenho até hoje fitas cassetes que ela gravava e dava para eu ouvir, coisas importantes de [[Quincy Jones]], por exemplo, que naquela época era muito difícil de alguém ter. Ela me apresentou toda essa gente, pois quando eu fui tocar com Elis eu era um ''baileiro'', tocava na noite.
 
: AsÀs vezes, cantávamos depois do show no hotel. Quando não tinha mais ninguém no bar, porque Elis era muito tímida fora do palco, ela ficava cantando com o César no piano... Ela cantava blues, jazz... Outro feito dela era brigar pelos músicos. Se hoje os músicos recebem direitos conexos, têm que agradecer a Elis. Ela ajudou a fundar as primeiras associações dos músicos e sempre defendeu que os discos deveriam sair numerados da fábrica.
 
: Tive a sorte de ter duas músicas minhas, A Dama do Apocalipse e Saia Dessa, gravadas por ela e até hoje isso me envaidece muito. Eu estava preparando o disco dela de 1982, estávamos escolhendo as músicas e eu ia fazer as bases e depois escolheríamos dois ou mais arranjadores para terminar o disco.
 
:Na segunda-feira, dia 18 de janeiro, um dia antes dela morrer, ela estava muito ansiosa para começar o disco, ela me dizia ''vamos começar isso amanhã''. Eu disse que então ela conversasse com o produtor da Som Livre que ele abriria o estúdio a hora que ela quisesse. Aí marquei com ela para às 3 da tarde, do dia seguinte, para continuarmos a escolher as músicas, mas foi isso. Ela já tinha escolhido algumas músicas. Eu até lembro quais, mas prefiro não dizer, porque gera uma cobrança muito grande. Muitos compositores, depois que Elis morreu, apareceram por aí dizendo que ela iria gravar músicas deles. Muitos dos que falaram isso, era tudo mentira.
 
:É sempre bom lembrar Elis. O buraco que ela deixou... A música caiu muito. Se ela tivesse viva, eu tenho certeza que a música brasileira não estaria tão ruim.
:- ''[[Nathan Marques]], guitarrista.''