Mário de Sá-Carneiro: diferenças entre revisões

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Aterrado, soltei um grande grito - um grito estridente, despedaçador - e, possesso de medo, de olhos fora das órbitas e cabelos erguidos, precipitei-me numa carreira louca... por entre corredores e salões... por escadarias..."
 
 
"(...)que o seu gênio - talvez por demasiado luminoso - se consumiria a si próprio, incapaz de se condensar numa obra - disperso, quebrado, ardido. E assim aconteceu, com efeito. Não foi um falhado porque teve a coragem de se despedaçar."
 
" Mas hoje já não sei com que sonhos me robustecer. Acastelei os maiores... eles próprios me fartaram: são sempre os mesmos - é impossível achar outros..."
 
" De forma que ''gastar tempo'' ´w hoje o único fim da minha existência deserta. Se viajo, se escrevo - se vivo, numa palvra, creia-me: é só para consumir instantes. Mas dentro em pouco - já o pressinto - isto mesmo me saciará. E que fazer então? Não sei... não sei... Ah! que amargura infinita..."
 
" É curioso: sou um isolado que conhece meio mundo, um desclassificado que não tem uma dívida, uma nódoa - que todos consideram, e que entretanto em parte alguma é adimitido...(...) Nos próprios meios onde me tenho embrenhado, não sei por que senti me sempre um estranho..."
 
''"A minha alma não se angustia apenas, a minha alma sangra.''As dores morais transformam-se-me em verdadeiras dores físicas, em dores horríveis, que eu sinto materialmente - ''não no meu corpo, mas no meu espírito."''
 
" Sim, a minha pobre alma anda morta de sono, e não a deixam dormir - tem frio, e não sei aquecer! Endureceu-me toda!secou, ancilou-se-me; de forma que movê-la - isto é: pensar - me faz hoje sofrer terríveis dores. E quanto mais a alma me endurece, mais eu tenho ânsia de pensar! Um turbilhão de idéias - loucas idéias! - me silva a desconjuntá-la, a arrepanhá-la, a rasgá-la, num martírio alucinate! Até que um dia - óh!é fatal - ela se me partirá voará em estilhaços... A minha pobre alma! A minha pobre alma!..."
 
" Sou todo incoerências. Vivo desolado, abatido, parado de energia, e adimiro a vida, entanto como nunca ninguém a admirou!"
 
"Somos todos álcoo, todos álcool! - ''álcool que nos esvai em lume que nos arde''!"
 
" (...) só depois de satisfazer os meus desejos, posso realmente sentir aquilo que os provocou. A verdade, por consequência, é que as minhas próprias ternuras, nunca as ''senti'', apenas as ''adivinhei''."
 
" (...) eu, por mais que me esforce, nunca poderei retribuir nenhum afeto: ''afetos não se materializam dentro de mim''! é como se me faltasse um sentido - se fosse cego, se fosse surdo. Para mim, cerrouy-se um mundo de alma. Há qualquer coisa que eu vejo, não posso abranger; qualquer coisa que eu palpo, e não posso sentir... Sou um desgraçado... um grande desgraçado, acredite!"
 
" Eu era alguém cujos pés, sobre uma estrada lisa, cheia de sol e árvores, se cavasse de súbito um abismo de fogo."
 
''" Permaneci,mas já não me sou."''