Geraldo Lapenda: diferenças entre revisões

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'''[[w:Geraldo Lapenda|'''Geraldo''' Calábria '''Lapenda]]''']] ''(06.12.6 de dezembro de 1925 - 19.12. de dezembro de 2004), foi um filólogo brasileiro.''
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* "Não se pode compreender um tecnicismo sem humanismo, e o humanista sem ter ao lado o tecnicista, e sinto-me levado a condenar a ênfase exagerada que muitos dão, cada vez mais, ao tecnicismo, em detrimento de tudo o que for da área cultural ou de humanidades, transformando os [[homens]] em simples robôs sem [[coração]] e sem sentimentos".
'''[[w:Geraldo Lapenda|Geraldo Calábria Lapenda]]''' ''(06.12.1925 - 19.12.2004), filólogo brasileiro.''
 
* "Não se pode compreender um tecnicismo sem humanismo, e o humanista sem ter ao lado o tecnicista, e sinto-me levado a condenar a ênfase exagerada que muitos dão, cada vez mais, ao tecnicismo, em detrimento de tudo o que for da área cultural ou de humanidades, transformando os homens em simples robôs sem coração e sem sentimentos".
 
* "As grandes realizações, muitíssimas vezes, são a soma de atos insignificantes".
 
* "A [[vida]] é um contínuo e sucessivo decidir-se entre diversas possibilidades, levando-nos normalmente a buscar um sentido axiológico na escolha da alternativa adequada".
 
* "Durante a realização de nossos trabahos, a confiança em nós mesmos aumentará quando aliada à confiança em todos os que, em nosso redor, procuram apoiar-nos".
 
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'''Citações sobre ''Geraldo Lapenda'''''
 
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[[categoria:pessoas]] [[categoria:filólogos do Brasil]]
* '''''Palhares Moreira Reis''''' (Advogado e Professor Universitário Salesiano)<br>
<small>Publicado em 13.01.2005 – Diário de Pernambuco (1º Caderno – Opinião - p. A3)<small>
;'''Geraldo Lapenda'''
Pouco depois de ter completado 79 anos, desapareceu de nosso convívio o professor Geraldo Calábria Lapenda, que durante muitos anos foi formador de estudantes e estudiosos de línguas em diversos estabelecimentos de ensino em Pernambuco.<br>
Geraldo Lapenda, oriundo de Nazaré da Mata, neste Estado, menino ainda foi estudar no Rio de Janeiro, no seminário católico então dirigido por seu tio e, em seguida, prosseguiu seus estudos visando o sacerdócio, em Roma.<br>
Quase no fim dos seus cursos, perto da ordenação, entendeu não ter havido, de modo efetivo, a vocação, o chamamento para o sacerdócio, voltando para o Brasil. Se tivesse continuado na trilha sacerdotal, possivelmente, teria sido bispo, do mesmo modo que D. José Lamartine, seu colega de turma.<br>
Ao retornar ao Recife, foi convidado para ser professor assistente de Língua e Literatura Italiana, na Faculdade de Filosofia de Pernambuco da Universidade do Recife, no início dos anos 50, época em que eram estudantes e diretorianos diversas figuras que se destacavam naquela faculdade e que, depois, igualmente se destacaram na vida acadêmica e profissional no Recife: Joaquim Correia, que foi Presidente local da OAB, José Adolfo Pereira Neves, hoje falecido, o autor destas linhas e Maria Clementina Rego Barros, professores da UFPE, Nilton Siqueira, procurador-geral também da UFPE, dentre outros. Com Maria Clementina casou-se Lapenda pouco depois, e dessa união nasceram três filhos, Ana Lúcia, igualmente professora de Letras na UFPE, como os pais, Marcos José, engenheiro da Chesf e Marcelo, advogado, hoje no Tribunal Regional Federal.<br>
Geraldo Lapenda era fluente em inúmeros idiomas, não apenas os tradicionais europeus, como o português, espanhol, francês e inglês, dos nossos cursos ginasiais e colegiais, como igualmente o italiano, o latim, o grego e o tupi. Daí ter sido professor de muitas dessas línguas, tendo o seu mérito ressaltado quando da posse como professor num dos cargos, pelo colega Lucilo Varejão Filho, num discurso intitulado “Para que serve um professor de grego?”<br>
Suas teses de concurso – além de catedrático do “Ginásio Pernambucano” era mestre, doutor e docente livre na Universidade Federal – sempre versavam sobre temas inexplorados, como a “Tendência do latim ao analitismo”, e a “Estrutura da língua iathê”, onde desbrava os íntimos da língua dos índios pernambucanos.<br>
Afora outros trabalhos, igualmente relevantes, que seria fastidioso relacionar. Igualmente era bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco.<br>
Na Universidade Federal de Pernambuco, no fim dos anos 70 exercia a coordenação do curso de Letras e, por eleição, tinha assento no Conselho Universitário e no Colégio Eleitoral para a escolha de reitor e de vice-reitor. No dia em que haveria a eleição da lista para substitutos do reitor Paulo Maciel e seu vice, encabeçou a lista para reitor o prof. Geraldo Lafayette Bezerra, que foi conduzido pelo ato presidencial. Para vice-reitor, foi Geraldo Lapenda surpreendido com a inclusão do seu nome na lista sêxtupla, ao lado de outros docentes, de modo a alterar a composição que, se pensava, teria a benesse ministerial. Qual foi a surpresa de todos – e maior ainda a dele mesmo – quando o ministro Eduardo Portella escolheu o nome do seu antigo mestre para aquele cargo. A comunicação de que tinha sido nomeado pelo presidente foi, inicialmente, por ele recebida com sendo um “trote”, porém logo confirmada pela publicação do ato no Diário Oficial.<br>
Como vice-reitor participou de inúmeras reuniões dos Conselhos de Reitores e de outros órgãos superiores, e, mais tarde, com o falecimento do reitor Lafayette, assumiu o Reitorado e promoveu a eleição e encabeçou a lista da qual sairia a escolha do reitor George Browne Rego. O autor testemunhou, no aeroporto dos Guararapes, o diálogo entre a ministra Esther Ferraz e Geraldo Lapenda, quando este, instado para aceitar o cargo, declinou expressamente da possível escolha presidencial.<br>
Nossos laços de amizade e de coleguismo profissional se ampliaram com casamento entre seu filho Marcos com minha filha Sophia, havendo, dos seus 5 netos, dois que nos são comuns.<br>
Poucos recordam, salvo os mais íntimos, que Geraldo Lapenda cantava, e bem, músicas populares, em português e em italiano, e por vezes, animava viagens de ônibus, usando o microfone do guia para cantar “a capella” para nossa alegria, como naquelas dos “Amigos do Porto”, em Portugal.
Faleceu no último dia 19 de dezembro. Mesmo tendo se afastado do sacerdócio, continuava firme na sua fé e na crença na vida pós-morte, onde estará, seguramente, recebendo os merecidos prêmios e velando pelos seus e seus amigos que ainda estão por aqui.<br><br>
* '''''José Luiz Delgado''''' (Professor da Faculdade de Direito do Recife - UFPE)
<small>Publicado em 16.01.2005 – Jornal do Commercio (1º Caderno – Opinião - p. 11)<small>
;'''Lapenda e os velhos gramáticos'''
Era um homem de bem. Era humilde e bom. E, por acréscimo, como ainda sabia o idioma! Fazia parte de uma geração admirável, não apenas de professores de português, mas de exímios conhecedores da língua, um José Lourenço, um José Brasileiro Vilanova, um Adauto Pontes. Esse correto e admirável Geraldo Lapenda, que há pouco perdemos, “misto de retidão, equilíbrio, energia e, paradoxalmente, brandura” (declarou Lucilo Varejão Filho ao saudá-lo, na posse como vice-reitor da Universidade Federal), sabia realmente o português. Não digo que sabia “as normas da língua culta” porque detesto esse eufemismo ridículo, só para evitar o nome “gramática”, que a uns tantos parece repugnante, e, pior, para evitar a noção de que existiria um “certo” e um “errado” na língua, de sorte a se justificarem então todos os usos, desde os da linguagem coloquial até os simplesmente analfabetos. Lapenda sabia português, sabia profundamente, sabia exaustivamente, sabia muito mais do que deve saber qualquer um que tenha um mínimo de zelo pela própria língua e um mínimo, afinal, de patriotismo. E sabia português assim porque, em primeiro lugar, sabia latim, e com igual profundidade. <br>
Tive o privilégio de haver sido seu aluno - é verdade que apenas um ano, o único em que estudei no Ginásio Pernambucano, que naquele tempo era praticamente uma universidade, tais os mestres que ali ensinavam (lá foram meus professores, além de Lapenda, uma Bernadete Pedrosa, um Lucilo Varejão, um Adauto Pontes: como pôde, depois, o ensino público decair tanto??). Reencontrei-o, passados vários anos, na Reitoria e na Universidade e o tive sempre como meu professor permanente. Várias vezes o incomodei, em consultas para tirar dúvidas, para aprender mais as riquezas, as potencialidades, os meandros da língua - não complicada, mas complexa e rica, que precisa de devotos, não de negadores. <br>
Não esqueço que uma vez Lapenda - nessa simplicidade que é própria dos grandes homens, que amam mais a verdade do que o respeito humano - tomou a iniciativa de me chamar a um canto, numa sala da Reitoria, para me apontar um erro num escrito meu. Era uma frase que eu escrevera embora cheio de dúvidas: procurara a solução nalgumas gramáticas e, nada encontrando explicitamente, terminei adotando a norma geral que, naquele caso, sentia não ser adequada e, como Lapenda me mostrou, era mesmo inaplicável. E assim Lapenda espontaneamente, generosamente, com absoluta simplicidade, me corrigiu e me deu a lição exata, preciosa, inesquecível. <br>
Naquela bonita saudação, em que propunha a indispensável pergunta: “Para que serve um professor de grego?”, Lucilo Varejão Filho elogiava Lapenda como “o melhor exemplo que conheço da utilidade da cultura humanística na formação dos cidadãos”. Conhecendo profundamente o grego e o latim (além de outras línguas, e até da própria iatê dos nossos fulniôs, sobre a qual escreveu trabalho inigualável), Geraldo Lapenda bem pode, como advogava Lucilo, ser evidência dos excelentes frutos de um assíduo contacto com “o espírito das velhas civilizações clássicas”. Como é ilustrativo, também, do excepcional nível da formação haurida nos velhos seminários - quantos intelectuais de altíssimo nível não estudaram, durante largo tempo de sua mocidade, nos seminários de antanho, desistindo depois da vocação sacerdotal? E é, ainda, para mim, o modelo do cultor da nossa língua portuguesa. Porque, como Manuel Bandeira pedia aos jovens poetas (que lhe mostrassem, antes de suas produções modernistas, o caderno de sonetos que tivessem composto), ensinando, assim, que a liberdade só é possível depois da disciplina e da técnica, - do mesmo modo também o escritor só se pode atrever a certas liberalidades com o idioma se, primeiro, dominar adequadamente as suas regras tradicionais. Saber Geraldo Lapenda vivo e lúcido, ainda que eu não o encontrasse freqüentemente, era para mim a tranqüilidade de uma absoluta segurança. Eu tinha a quem recorrer toda vez que me assaltasse uma dúvida maior de português de que não conseguisse dar conta com os compêndios de gramática. <br><br>
* '''''José Carlos L. Poroca''''' (Advogado) <br>
<small>Publicado em 21.01.2005 – Diário de Pernambuco (1º Caderno – Opinião - p. A3 - Bubalus bubalu)<small>
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Antes do internamento, o comitê informa que “Bubalus bubalu” não tem nada a ver com o mambo cubano. Foi o primeiro búfalo clonado na China, sobrevivente de poucas horas. Também informa que este texto foi feito em homenagem ao mestre Geraldo Lapenda, que um dia me expulsou merecidamente da sala de aula. Paciente, ensinou aos seus pupilos que alface não é fruta, pitomba não é sobremesa, João se escreve com jota, geralmente com gê!<br><br>
* '''''Juracy Andrade''''' (Jornalista)<br>
<small>Publicado em 29.01.2005 – Jornal do Commercio (1º Caderno – Opinião - p. 13 - Tirania e Cinismo)<small>
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Desejo ainda registrar que, quando estava viajando por aí, fiquei sabendo do falecimento do professor Geraldo Lapenda. A sua família, minha solidariedade. Guardo dele a melhor lembrança, como pessoa humana, dono de vasta cultura clássica (como eu, era ex-aluno do Seminário de Olinda e da Universidade Gregoriana) e também de uma simplicidade franciscana. Eu estava sendo reintegrado à UFPE, via Lei da Anistia. O reitor era o prof. Geraldo Lafayette,que sofria uma campanha implacável de um jornal da praça, alimentada por Gilberto Freyre, que tivera um pleito recusado pela reitoria (um replay do caso João Alfredo, que o mesmo havia conseguido tirar da universidade no embalo dos expurgos do golpe e 1964). Lafayette terminou morrendo; não vítima da campanha de desestabilização, mas por infecção hospitalar. Lapenda, vice-reitor, o substituiu por uns dois anos, sem perder aquela sua simplicidade, sem a ‘magnífica pose’ característica. Como eu coordenava a Assessoria de Comunicação Social, tive muito contato com ele e aprendi a admirá-lo, a lhe querer bem.<br><br>
* '''''Nelly Carvalho''''' (Professora do Departamento de Letras - UFPE)
<small>Publicado em 11.02.2005 – Jornal do Commercio (1º Caderno – Opinião - p. 11)<small>
;'''O que é aprender'''
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O que é aprender? É conviver com o belo, o significativo, o diferente, guardando-o como tesouro em nosso espírito. <br>
Falar em aprender é lembrar os mestres. Assim, queria homenagear, agora, um grande mestre que se foi junto com o ano de 2004: professor Geraldo Lapenda. <br>
Profundo conhecedor de línguas, ensinou-nos Latim e Italiano, no curso de Graduação em Letras Neo-latinas. Tinha uma didática tão perfeita que durante toda a vida, como professora de língua portuguesa, tentei imitá-lo, em vão. Ensinou-nos italiano, conseguindo que, em dois anos, já falássemos bem e transformou o estudo do Latim em algo interessante, através do texto das Metamorfoses de Ovídio, uma lenda explicativa das origens do mundo. Sabia muito e sabia mais : espanhol, francês, alemão, inglês, tupi e foi quem primeiro descreveu a língua dos índios fulniô de Águas Belas, o iathê. Tanto no Mestrado, como no Doutorado, ensinou Fonética e Fonologia, que são o nó da Lingüística e conseguia ser entendido, sabia fazer-nos aprender.
Mestres como Lapenda já se fazem raros pelo saber, pela grandeza de espírito e pela simplicidade.
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* '''''José Carlos Targino'''''
<small>Publicado em Fev.2005 – INCampus / Boletim Informativo da UFPe (Memória - p. 7)<small>
;'''Lapenda: trajetória de sucesso'''
Ex-reitor da UFPE, Geraldo Lapenda foi um filólogo. Aprendeu sete idiomas, além de elaborar uma gramática na língua dos índios fulni-ô.<br>
''“Era um homem de bem. Era humilde e bom. E, por acréscimo, ainda sabia vários idiomas.”'' Com essas palavras, o professor de Direito José Luiz Delgado parece ter definido de maneira exemplar o caráter e a competência profissional de Geraldo Lapenda, professor aposentado do Departamento de Letras e ex-reitor da Universidade, falecido em dezembro do ano passado.
Mas Lapenda era mais do que isso. Fluente em várias línguas, como espanhol, francês, inglês, italiano, latim, grego e tupi, ainda se meteu numa empreitada digna de registro: aprendeu o iathê, língua dos índios fulni-ô, e descreveu-lhe a estrutura, elaborando uma gramática que ficou famosa.<br>
Aryon Rodrigues, professor da Universidade de Brasília, era um dos admiradores dessa gramática, que Lapenda preparou depois de um longo e paciente aprendizado da língua com um índio fulni-ô. ''“Ele era, profissionalmente, um filólogo, e não um lingüista. Por isso, cresce de importância o seu mérito”'', reconhece Aryon. De fato, o professor era, sobretudo, um apaixonado pela cultura clássica, que conhecida profundamente. ''“Ensinou-me latim de maneira muito interessante, através do texto das Metamorfoses de Ovídio”'', diz a professora Nelly Carvalho, do Departamento de Letras. “Tinha uma didática perfeita, que tentei imitar em vão”, elogia.<br>
''“Guardo dele a melhor lembrança, como pessoa, dono de uma vasta cultura clássica e de uma simplicidade franciscana”'', recorda o jornalista Juracy Andrade, fundador da Assessoria de Comunicação da UFPE e que com ele conviveu, por ocasião do seu reitorado. Era fácil abordar Lapenda, pedir-lhe explicação para algum ponto complexo, quer fosse em filosofia, literatura clássica ou línguas.<br>
Nessas ocasiões, ele costumava conduzir a pessoa para um lugar reservado e al, longe do barulho do mundo, dar uma verdadeira aula sobre o assunto.<br>
''“Amizade, sinceridade e lealdade foram sempre suas companheiras”'', assegura Ana Lúcia Lapenda, sua filha e também professora de Letras. Lapenda tinha forte formação religiosa, tendo sido aluno de Teologia na Universidade Gregoriana, em Roma. ''“Entendeu não ter havido, de modo efetivo, a vocação”'', explica o advogado e professor da UFPE Palhares Moreira Reis.<br>
Lapenda então voltou ao Brasil e deu início à carreira no magistério, ensinando, inicialmente, nos mais diversos colégios recifenses, inclusive o então requisitado Ginásio Pernambucano. “Um dia, me expulsou merecidamente da sala de aula, mas era um grande mestre”, lembra José Carlos Poroca, executivo, advogado e cronista, que foi seu aluno no Pernambucano.<br>