Fernando Sabino: diferenças entre revisões

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* "Ficou a olhar Antonieta que, sentada na borda da banheira, se ocupava em raspar os pêlos da perna. Era uma mulher, a sua mulher. Uma bela mulher — dessa beleza que um dia, pela manhã, haveria de desaparecer do rosto sem deixar vestígios. O corpo jovem tinha já certo ar de coisa usada que pode passar por nova e ele de algum modo era responsável por tudo que lhe viria a acontecer: rugas, gordura, disformidade, cabelos brancos, dores no fígado ou no útero, doença, morte. Dela finalmente nasceria o filho, que ainda não se adivinhava — e para isso a mulher fora feita. No mais, era apenas aquilo: um feixe de nervos e carnes em cima dos ossos, um conjunto de glândulas, vísceras, vasos, sangue, humores, tudo coberto de uma pele macia, delicada, boa de se passar a mão..."
 
* "Com quem puxar angústia agora? Nascemos para morrer — nada pior do que não ter nascido. A vida tem dessas contradições, dizia o pai. Onde as verdades eternas? O tempo levava tudo, ele não tinha onde se ancorar."
 
* "O mundo não é senão o fruto da intimidade de Deus consigo mesmo."
 
* "Apanhamos o fruto verde e deixamos que ele apodreça nas nossas mãos."
 
* "Tema habitual de Eduardo: o tempo em face da eternidade. Caminhamos para a morte. O futuro se converte, a cada instante, em passado. O presente não existe. Vivemos a morte desde o nascimento.
— Nascemos para morrer.
E ficavam calados, solenizados, angustiados enfim, diante da gravidade do que Eduardo sentenciara."
 
* "Para isso vivemos... Nada mais terrível do que não ter nascido! ele dissera um dia. E agora? Agora só a liberdade importava: liberdade de um dia olhar o outro nos olhos e dizer: és tu — reconhecê-lo, identificar-se com ele logo que o encontrasse e enfim se deixar viver numa enfim conquistada disponibilidade, que a vida em si mesmo justificava. O O anonimato, por exemplo, era uma antevisão do paraíso — andar desconhecido e livre pelas ruas, ninguém o identificava, (...)"
 
* "— É um bom começo saber isso: não ter medo de nada, nem de morrer. Você tem medo da morte? Então desista de uma vez, porque morrer não tem importância — Mário de Andrade morreu e está mais vivo do que eu, do que você. Estou repetindo palavras dele! Tenha medo é dos escorregões. Não escorregue, caia de uma vez. Os medíocres apenas escorregam. Os bons quebram a cabeça. Você é dos bons. Pois vá em frente! Pague seu preço e Deus o ajudará."
 
* "(...), vivia sempre recomeçando, não nascera para vencer, mas para encher raia, tirar o terceiro lugar."