Valerie Solanas: diferenças entre revisões

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* Completamente egocêntrico, incapaz de se relacionar, de ter empatia ou de se identificar, e preenchido com uma sexualidade vasta, penetrante e difusa, o macho é psiquicamente passivo. Ele odeia sua própria passividade, projeta-a nas mulheres, define-se como ativo e tenta demonstrá-lo — "provar que é Homem". Foder é seu principal meio para tentar provar isso (o Grande Homem com uma Grande Pica comendo uma Mulher Gostosa). Já que ele está tentando provar algo que é falso, ele tem de tentar repetidamente, uma vez, outra vez e mais outra. Foder, então, é uma tentativa compulsiva e desesperada dele provar que não é passivo, que não é uma mulher; mas na verdade ele é passivo e quer ser mulher.
 
* Sendo ele uma fêmea incompleta, o macho passa a vida a tentar completar-se, tornar-se fêmea. Ele tenta fazer isso procurando constantemente a fêmea, confraternizando-se, tentando viver através dela e fundir-se nela, e reivindicando como suas todas as características femininas — força e independência emocionais, vigor, dinamismo, decisão, tranqüilidade, objetividade, segurança, coragem, integridade, vitalidade, intensidade, profundidade de caráter, excelência, etc. — e projetando nas mulheres todos os traços masculinos — vaidade, futilidade, trivialidade, fraqueza, etc. Deve ser dito, no entanto, que o homemmacho possui uma área de evidente superioridade sobre a mulherfêmea — a de relações públicas. (Ele realizou um trabalho brilhante convencendo milhões de mulheres de que os homens são mulheres e as mulheres são homens.)
 
* Os homensmachos afirmam que as mulheresfêmeas encontram satisfação através da maternidade e da sexualidade, mas isso reflete o que eles acham que os satisfaria se fossem mulheresfêmeas.
 
* As mulheres não têm inveja do pênis; os homens é que têm inveja da boceta. Quando o macho aceita sua passividade, define a si mesmo como mulher (os machos, assim como as fêmeas, pensam que os homens são mulheres e as mulheres são homens), e torna-se um travesti — ele perde o desejo de foder (ou de fazer qualquer outra coisa, neste ponto; ele se satisfaz como ''drag queen'') e faz com que lhe cortem o pênis. Ele obtém então um sentimento sexual contínuo e difuso de "ser mulher". Foder é, para um homem, uma defesa contra seu desejo de ser fêmea. O sexo é, em si mesmo, uma sublimação.
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:* Preconceito (racial, étnico, religioso, etc.) — O macho precisa de bodes expiatórios sobre os quais possa projetar suas falhas e inadequações e sobre os quais possa descarregar sua frustração por não ser fêmea. E as várias discriminações têm a vantagem prática de aumentar substancialmente a quantidade de vaginas disponíveis para os homens no topo.
 
:* Competição, prestígio, status, educação formal, ignorância, classes sociais e econômicas — Tendo um desejo obsessivo de ser admirado pelas mulheres, mas não tendo nenhum valor inerente, o homemmacho constrói uma "sociedade" altamente artificial que o possibilita apropriar-se de uma aparência de valor através do dinheiro, prestígio, "alta" classe social, diplomas, posição profissional e conhecimento e, derrubando profissionalmente, socialmente, economicamente, e educacionalmente tantos outros homens quanto possível.
 
* O objetivo da educação universitária não é o de fornecer uma bagagem cultural aos nossos jovens, mas sim o de excluir o máximo número possível desses jovens das várias profissões.
 
* Nenhuma revolução verdadeira poderá nunca ser feita pelos homensmachos, porque os que estão no Poder querem conservar as coisas como estão, e os que estão afastados do Poder querem simplesmente alcançá-lo. O macho rebelde é uma farsa: esta "sociedade" é sua, pertence-lhe, fê-la '''ele''' para satisfação dos '''seus''' desejos. Mas ele não pode sentir-se satisfeito, porque não é capaz disso. No fim de contas, o macho que se rebela, rebela-se sempre contra a mesma coisa: contra o seu ser masculino.
 
* Dada a natureza totalmente egocêntrica do homemmacho e sua incapacidade de relacionar-se com qualquer coisa externa a si mesmo, a “conversa” masculina, quando não gira em torno dele mesmo, é um discurso impessoal, monótono, despojado de valor humano. A “conversa intelectual” do homem é uma tentativa forçada e compulsiva de impressionar a mulher.
 
* A Menina do Papai, passiva, adaptável, respeitadora e temerosa do homemmacho, aceita que ele lhe imponha uma conversa desinteressante e insípida. Isto não é muito difícil, uma vez que a tensão e ansiedade, a falta de calma e de autoconfiança, a insegurança e a incerteza dos seus próprios sentimentos e sensações, que o Papai nela instilou, tornaram a sua percepção superficial e incapaz de ver que o blá-blá-blá do homemmacho não passa de blá-blá-blá. Tal como o esteta que “aprecia” o borrão classificado de “Grande Arte”, também acredita que está a curtir o que na realidade a aborrece mortalmente.
 
* Como tem um desejo intrínseco de se tornar mulher, o macho faz o possível para estar constantemente ao redor das fêmeas, que é o mais próximo que ele consegue chegar de ser uma. Para isso criou uma "sociedade" baseada na família — um casal macho-fêmea e seus filhos (a desculpa para a existência da família), que vivem controlando uns aos outros, violando inescrupulosamente os direitos, a privacidade e a sanidade das fêmeas.
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* Apesar de querer ser um indivíduo, o macho tem medo de qualquer coisa que o diferencie minimamente dos outros homens; levando-o a suspeitar que ele não seja realmente um "Homem", que ele é passivo e totalmente sexual, uma suspeita altamente perturbadora. Se os outros homens são "A" e ele não, ele pode não ser um homem; ele deve ser uma bicha. Assim, ele tenta afirmar a sua "Masculinidade" sendo como todos os outros homens. Qualquer diferença nos outros homens, assim como nele próprio, o ameaça: significa que '''eles são''' bichas, que precisam ser evitados a todo custo, então ele tenta garantir que todos os outros homens se enquadrem à norma.
 
* O macho ousa ser diferente na medida em que aceita sua passividade e seu desejo de ser fêmea, sua bichice. O macho mais divergente é ao drag queentravesti, mas este, embora diferente da maioria dos homens, é exatamente como todas astodos outrasos dragoutros queenstravestis; como um funcionalista, ele tem uma identidade — é uma mulher. Ele tenta afastar todos os seus problemas — mas a individualidade ainda inexiste. Não estando completamente convencido de que ele é uma mulher, extremamente inseguro quanto a ser suficientemente fêmea, ele se conforma compulsivamente ao estereótipo feminino feito pelo homem, e no fim das contas não é mais que um monte de maneirismos afetados.
 
* Para ter certeza de que é um "Homem", o macho precisa garantir que a fêmea seja claramente uma "Mulher", o oposto de um "Homem", ou seja, a fêmea precisa agir como uma bicha. E a Menina do Papai, que teve todos os seus instintos de fêmea arrancados dela quando pequena, adapta-se fácil e complacentemente ao papel.
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* O amor não pode florescer numa "sociedade" baseada no dinheiro e no trabalho sem sentido; pelo contrário, para que o amor floresça exige-se liberdade econômica e pessoal, tempo disponível, oportunidade de nos deixarmos envolver em atividades emocionalmente satisfatórias, que, uma vez partilhadas entre pessoas que se respeitam, conduzem a uma amizade profunda. Mas essa "sociedade" não fornece, praticamente, nenhuma oportunidade desse gênero.
 
* Amor não é dependência nem é sexo, é amizade, e portanto o amor não pode existir entre dois homens, entre um homem e uma mulher ou entre duas mulheres, sesendo que um deles ou ambos foremsão machos estúpidos, inseguros, bajuladores de homens; como numauma conversa, o amor só pode existir entre duas mulheres-mulheres confiantes, desembaraçadas, independentes e divertidas, porque a amizade se baseia no respeito e não no desprezo.
 
* O sexo é o refúgio dos idiotas. Quanto mais privada de aparelho mental for a mulher, quanto mais integrada estiver na "cultura" masculina, por outras palavras, quanto mais graciosa for, mais sensualsexual é. As mulheres mais graciosas da nossa "sociedade" são maníacas sexuais alucinadas.
 
* Sexo não é parte de um relacionamento; pelo contrário, é uma experiência solitária, não-criativa, uma grande perda de tempo. A fêmea pode facilmente — mais facilmente do que ela pode imaginar — afastar seu impulso sexual, ficando completamente tranqüila e cerebral e livre para perseguir atividades e relacionamentos verdadeiramente valiosos; mas o macho, que parece gostar sexualmente das mulheres e que procura excitá-las constantemente, estimula a fêmea altamente sexual a frenesís de luxúria, atirando-a num abismo de sexo do qual poucas mulheres escapam. O macho lascivo excita a fêmea luxuriosa; ele '''precisa''' fazê-lo — quando a fêmea transcende seu corpo, eleva-se acima do animalismo, o macho, cujo ego constitui-se de seu pênis, desaparece.