José Saramago: diferenças entre revisões

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Linha 73:
*"A vida é assim, faz-se muito de coisas que acabam, Também se faz de coisas que principiam, Nunca são as mesmas."
 
*"Perder tempo a explicar por que gosta seria pouco menos que inútil, há coisas na vida que se definem por si mesmas, um certo homem, uma certa mulhar, uma certa palavra, um certo momento, bastaria que assim o tivéssemoastivéssemos enunciado para que toda a gente percebesse de que se tratava, mas outras coisas há, e que até poderão ser o mesmo homem e a mesma mulher, a mesma palavra e o mesmo momento, que, olhadas de um ângulo diferente, a uma luz diferente, passam a determinar dúvidas e perplexidades, sinais inquietos, uma insólita palpitação..."
 
*"... enquanto houver vida, haverá esperança. Sim, é certo, por mais espessas e negras que estejam as nuvens sobre nossas cabeças, o céu lá por cima estará permanentemente azul, mas a chuva, o granizo e os coriscos é sempre para baixo que vÊmvêm, em verdade não sabe uma pessoa o que pensar quando tem de fazer-se entender com uma ciência dessas"
 
*"Obrigado por teres posto a tua mão sobre a minha"
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*"(...)os motivos, de que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, outras vezes nem juntando todos, se as vidas de cada um de você não lhes ensinaram isto, coitados, e digo vidas, não vida, porque temos várias, felizmente vão se matando umas às outras, se não não poderíamos viver".
 
*"(...)o fato de ter dito que não conhecia Lisboa, quando entrou lá, há dois meses, não depões contra a hipótese, pode simplesmente não ter a reconhecido, como não a reconheceríamreconheceriam hoje os fundadores fenícios, os povoadores romanos, os dominadores visigódicos, acaso com algum vislumbre os muçulmanos, e cada vez mais confusamente os portugueses."
 
=== As Intermitências da Morte ===
 
*"As [[religião|religiões]], todas elas, por mais voltas que lhes dermos, não têm outra justificação para existir que não seja a [[morte]], precisam dela como do pão para a boca." [...] "Tem razão, senhor filósofo, é para isso mesmo que nós existimos, para que as pessoas levem toda a [[vida]] com o medo pendurado ao [[pescoço]] e, chegada a sua hora, acolham a [[morte]] como uma [[libertação]]," [...] "Não foi o que nos habituaram a ouvir, Algo teriamosteríamos que dizer para tornar atractiva a mercadoria, Isso quer dizer que em realidade não acreditam na vida eterna, Fazemos de conta."
 
*"Com as [[palavra]]s todo cuidado é pouco, mudam de opinião como as pessoas." [...] "Porque as palavras, se não o sabe, movem-se muito, mudam de um [[dia]] para o outro, são instáveis como [[sombra]]s, sombras elas mesmas, que tanto estão como deixaram de estar, bolas de sabão, conchas de que mal se sente a respiração, troncos cortados."
Linha 185:
*"... como se o tempo houvesse encolhido todo, de trás para diante e de diante para trás, comprimido em um instante compacto..."
 
*"O tempo pusera-se a contar os dias desde o princípio, agora usando a tábua de multiplicação para tirar o atraso. (...) O [[tempo]], ainda que os [[relógio]]s queiram convencernosconvencer-nos do contrário, não é o mesmo para toda gente."
 
*"O efeito da queda poderia ser acabar-se-lhe a vida, o que sem dúvida teria a sua importância de um ponto de vista estatístico e pessoal, mas que representa isso, perguntamos nós, se, sendo a vida biologicamente a mesma, quer dizer, o mesmo ser, as mesmas células, as mesmas feições, a mesma estatura, o mesmo modo aparente de olhar, ver e reparar, e sem que a estatística se tivesse podido aperceber da mudança, essa vida passou a ser outra vida, e outra pessoa essa pessoa."
Linha 197:
*"Para ela, vá lá entender a alma humana, o facto de não ver as paredes do cárcere, as próximas e as distantes, era o mesmo que se elas tivessem deixado de estar ali, era como se o espaço se tivesse alargado, livre, até ao infinito, como se as pedras não fossem mais do que o mineral inerte de que são feitas, como se a água fosse simplesmente a razão da lama, como se o sangue corresse só dentro das suas veias, e não fora delas."
 
*"Homem, não tenhas medo, a escuridão em que estás metido aqui não é maior do que a que existe dentro do teu corpo, são duas escuridões separadas por uma pele, aposto que nunca tinhas pensado nisto, tranpostastranspostas todo o tempo de um lado para outro uma escuridão (...), meu caro, tens de aprender a viver com a escuridão de fora como aprendeste a viver com a escuridão de dentro"
 
*"O tempo psicológico não corresponde ao tempo matemático."
Linha 220:
 
* "Têm razão os cépticos quando afirmam que a história da humanidade é uma interminável sucessão de ocasiões perdidas. Felizmente, graças à inesgotável generosidade da imaginação, cá vamos suprindo as faltas, preenchendo as lacunas o melhor que se pode, rompendo passagens em becos sem saída e que sem saída irão continuar, inventando chaves para abrir portas órfãs de fechadura ou que nunca a tiveram."
 
=== O Homem Duplicado ===
 
* "Às vezes pergunto-me se a primeira culpa do desastre a que este planeta chegou não terá sido nossa, disse, Nossa, de quem, minha, sua, perguntou Tertuliano Máximo Afonso, fazendo-se interessado, mas confiando que a conversa, mesmo com um início tão afastado das suas preocupações, acabasse por levá-los ao âmago do caso, Imagine um cesto de laranjas, disse o outro, imagine que uma delas, lá no fundo, começa a apodrecer, imagine que, uma após outra, vão todas apodrecendo, quem é que poderá, nessa altura, pergunto eu, dizer onde a podridão principiou, Essas laranjas a que está a referir-se são países, ou são pessoas, quis saber Tertuliano Máximo Afonso, Dentro de um país, são as pessoas, no mundo são os países, e como não há países sem pessoas, por elas é que o apodrecimento começa, inevitavelmente, E por que teríamos tido de ser nós, eu, você, os culpados, Alguém foi, Observo-lhe que não está a tomar em consideração o fator sociedade, A sociedade, meu querido amigo, tal como a humanidade, é uma abstracção, Como a matemática, Muito mais do que a matemática, ao pé delas a matemática é tão concreta como a madeira desta mesa".
 
==Diálogos==