Érico Veríssimo

escritor brasileiro (1905-1975)
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Érico Veríssimo (1930) é um escritor brasileiro.

Érico Veríssimo
Érico Veríssimo
Nascimento 17 de dezembro de 1905
Cruz Alta
Morte 28 de novembro de 1975 (69 anos)
Porto Alegre
Cidadania Brasil
Filho(a)(s) Luis Fernando Verissimo
Ocupação linguista, tradutor, escritor, romancista, jornalista, professor universitário
Prêmios
  • Prêmio Machado de Assis (1953, 1953)
  • Prêmio Juca Pato (1967)
Empregador(a) Universidade da Califórnia em Berkeley
Causa da morte enfarte do miocárdio

Verificadas

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Romances

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  • " - Clarissa!
Clarissa perfila-se, conserta o vestido e responde:
- Que é, titia?
- Vem pra dentro, menina. Está na hora do colégio.
O rosto da criaturinha ensombrece. O colégio... Livros, mapas, Ouviram do Ipiranga as margens plácidas... classes, cabeças curvadas sobre cadernos, cochichos, murmúrios e uma vontade doida de sair para o sol, de correr, ver a rua, as pessoas, as casas, o céu, os bondes, os automóveis..."
- Editora Companhia das Letras, 2005, p. 12
  • "O velho Nico Pombo, major reformado, o hóspede mais antigo da pensão. Não tem o que fazer durante o dia, mas costuma madrugar para o chimarrão.
No quarto do judeu já há rumores. Uma voz grossa vem do banheiro:
Deixa esta mulher chorar,
Pra pagar o que me fez...
O Nestor. Sempre cantando, sempre alegre. Clarissa gosta das pessoas alegres. Nem todos na pensão têm cara alegre. O mais triste é Amaro: tem um ar de sofredor, olhos que sempre estão olhando para parte nenhuma. E, depois, aquela mania de viver em cima do piano, batendo à toa nas teclas, inventando músicas que ninguém compreende... Enfim, como toda a gente diz que ele é um homem muito inteligente, é melhor não discutir...
Sorrindo, Clarissa entra no quarto."
- Editora Companhia das Letras, 2005, p. 13
  • Dedicatória:
"Maurício,
Quero que o teu nome fique inscrito também no pórtico deste livro, que viste amadurecer e que enriqueceste com mais de uma sugestão preciosa.Ele ficará como um marco significativo em nossas vidas- o símbolo de uma funda amizade, a recordação dos sonhos de solidariedade humana que sonhamos juntos."
- Editora Companhia das Letras, 2005
  • "O médico sai do quarto n.° 122. A enfermeira vem ao seu encontro.
- Irmã Isolda - diz ele em voz baixa - avise o Dr. Eugênio. É um caso perdido, questão de horas, talvez de minutos. E ele sabe que vai morrer..."
- Editora Globo, 1962, p. 9
  • "Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente."
- Editora Globo, 1962, p. 230
  • "Olha as estrelas. Enquanto elas brilharem haverá esperança na vida."
- Editora Globo, 1974, p. 94
  • "Afirmam os entendidos que os ossos fósseis recentemente encontrados numa escavação feita em terras do município de Antares, na fronteira do Brasil com a Argentina, pertenciam a um gliptodonte, animal antediluviano, que, segundo as reconstituições gráficas da paleontologia, era uma espécie de tatu gigante dotado duma carapaça inteiriça e fixa, mais ou menos do tamanho dum Volkswagen, afora o formidável rabo à feição de tacapa riçado de espigões pontiagudos."
- Editora Globo, 1971
  • “A esta altura da presente narrativa é natural que o leitor esteja inclinado a perguntar se não existiam em Antares homens de bem e de paz, comportamento e sentimentos cristãos. A pergunte é pertinente e a resposta, sem a menor dúvida, afirmativa. Havia sim, e muitos. Desgraçadamente seus ditos, feitos e gestos não foram recolhidos pela História oficial. Apenas uns poucos deles incorporaram-se à oral da cidade e do município: os restantes perderam-se para sempre no olvido."
- Editora Globo, 1971
  • "Os livros escolares, cujo objetivo é ensinar-nos a história da nossa terra e do nosso povo, são em geral escritos num espírito maniqueísta, seguindo as clássicas antíteses –os bons e os maus, os heróis e os covardes, os santos e os bandidos."
- Editora Globo, 1971
  • "Via de regra, não se empregam nesses compêndios as cores intermediárias, pois os seus autores parecem desconhecer a virtude dos matizes e o truísmo de que a História não pode ser escrita apenas em preto e branco.”
- Editora Globo, 1971
  • “— Será que um dia não vai haver mais em toda a Terra um lugar em que um homem possa ser dono pelo menos do seu nariz, dizer o que pensa, ter uma cota razoável de liberdade? Talvez em alguma ilha deserta do Pacífico...
— Não te iludas. Nem numa ilha deserta poderemos fugir à História. Um dia quando estiveres estendido na areia, nu e comendo a tua banana gratuita, um país qualquer que está querendo entrar para a “família nuclear”, testará a bomba atômica e te levará pelos ares em pedaços...”
- Editora Globo, 1971
  • “— Sei que a senhora gosta de ler — digo.
— Muito. Não se ria se eu disser que o romance mais bonito que li em toda a minha vida foi a Joana Eira de Carlota Bronte. Conhece? Uma jóia. Acho que li esse livro umas vinte vezes. Devorei também todo o Walter Scott e o Alexandre Dumas. Nunca suportei o Zola nem o Flaubert. Mas gostava do Tolstói. Ah! Leio também os modernos. Estrangeiros e nacionais, naturalmente.
— Já leu Jorge Amado?
— Por alto. É bandalho e comunista.
— E o nosso Erico Verissimo?
— Nosso? Pode ser seu, meu não é. Li um romance dele que fala a respeito do Rio Grande de antigamente. O Zózimo, meu falecido marido, costumava dizer que por esse livro se via que o autor não conhece direito a vida campeira, é “bicho da cidade”. Há uns anos o Veríssimo andou por aqui, a convite dos estudantes, e fez uma conferência no teatro. Fui, porque o Zózimo, insistiu. Não gostei, mas podia ter sido pior. Quem vê a cara séria desse homem não é capaz de imaginar as sujeiras e despautérios que ele bota nos livros dele.
— A senhora diria que ele também é comunista?
D. Quitéria que mastigava uma broinha de milho — e mais que nunca parecia um pequinês —, ficou pensativa por um instante.
— O Prof. Libindo costuma dizer que, em matéria de política, o Erico Verissimo é um inocente útil.”
- Editora Globo, 1971
  • "E eu acho, meu caro, que cada um de nós tem nas suas mais remotas cavernas interiores um troglodita adormecido que, submetido a um certo tipo de estímulo, vem rapidamente à tona de nosso ser e se transforma num déspota totalitário capaz de todas as bestialidades."
- Editora Globo, 1971, p. 145
  • "Acho que o homem é um animal agressivo, não há dúvida, mas a diferença entre ele e o lobo é que a criatura humana pensa, é ao mesmo sujeito e objeto, tem a capacidade de ver o seu lado negativo e deplorá-lo. Não ignora que tem um futuro. Tem também a consciência de sua finitude. É - salvo as aberrações - capaz de compaixão, de contrição e de amor. E a crise do mundo moderno não será principalmente a falta de amor?"
- Editora Globo, 1971, p. 187
  • "O fio que prende a sua fé deve ser do melhor aço e portanto resistente e ao mesmo tempo flexível. Fé sem flexibilidade, fé sem dúvida pode acabar em fanatismo."
- Editora Globo, 1971, p. 188
  • "Ora, menino, um ser humano não é uma moeda apenas, com verso e reverso. É um poliedro, com milhares de faces. E há milhares de maneiras de ver uma pessoa, um ato, um fato."
- Editora Globo, 1971, p. 247
  • "Comunista é o pseudônimo que os conservadores, os conformistas e os saudosistas do fascismo inventaram para designar simplisticamente todo o sujeito que clama e luta por justiça social."
- Editora Globo, 1971
  • "Quem está com fome fica surdo até mesmo à voz de Deus."
- Livraria do Globo, 1940, p. 213
  • "Antes, porém, de fechar os olhos, Winter ficou deitado de costas, com as mãos trançadas sob a cabeça, pensando na singular civilização que ali havia florescido e em como era estranho estar ele, Carl Winter, naquela terra remota à luz das estrelas, diante dum templo jesuítico em ruínas. Começou a fazer considerações sobre o tempo, a História e a Geografia. De certo modo o tempo histórico dependia muito do espaço geógrafico. Na Europa agora a humanidade se achava em pleno século XIX. Mas em que idade estariam vivendo os habitantes de Santa Fé e da maioria das vilas, cidades e estâncias da Província do Rio Grande do Sul? Existiam vastas regiões do globo em que ainda se encontravam no terceiro dia da Criação. E o viajante que em meados do século XVIII visitasse os Sete Povos das Missões, haveria de encontrar ali uma esquisita mistura de Idade Média e Renascimento, ao passo que se afastasse depois na direção do nascente ele como que iria recuando no tempo à medida que avançasse no espaço, até chegar ao Continente de São Pedro do Rio Grande, onde entraria numa época mais atrasada em que homens vindos do século XVIII com suas roupas, armas, utensílios, hábitos e crenças se haviam estabelecido numa terra de tribos pré-históricas, onde ficaram a viver numa idade híbrida."
- Editora Globo, 2002, p. 88

Outras citações

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  • "Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto."
- "Solo de clarineta: memórias" - v. 1, página 45, de Erico Veríssimo - Editora Globo, 1973
  • "Nenhum escritor pode criar do nada. Mesmo quando ele não sabe, está usando experiências vividas, lidas ou ouvidas, e até mesmo pressentidas por uma espécie de sexto sentido".
- Erico Veríssimo, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, junho de 1970
  • "Sei que não sou, nunca fui um writer's writer, um escritor para escritores. Não sou inovador, não trouxe nenhuma contribuição original para a arte do romance. Tenho dito, escrito repetidamente que me considero, antes de mais nada, um contador de histórias."
- "Ficção completa" - Página 163, de Erico Veríssimo - Publicado por Aguilar, 1967
  • "Todos nós somos um mistério para os outros... e para nós mesmos."
- citado por "Dicionário de pensamentos da língua portuguêsa" - Página 215, de Pandiá Pându - Publicado por Edições de Ouro, 1962 - 248 páginas