Carolina Maria de Jesus

escritora brasileira

Carolina Maria de Jesus (Sacramento, 14 de março de 1914São Paulo, 13 de fevereiro de 1977) foi uma escritora brasileira.

Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus
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Carolina de Jesus em outros projetos:


  • Enquanto os outros me admiravam so uma coisa me entristecia e me preocupava. Eu lutava para ficar livre do pensamento poético que me impedia o sono. Percebi que andando de um lado para outro o pensamento poético dissipava um pouco (...) Quando sentia fome as ideias eram mais intensas (...) Creio que já familiarizei com essa miniatura de calvário. Quando percebo que estou exausta, sento com lápis na mão e escrevo.
- Cinderela negra: a saga de Carolina de Jesus (1994, ed. UFRJ) apud Carolina Maria de Jesus: o estranho diário da escritora vira lata (2012, editora Horizonte), p. 95.
  • (...)

No inicio vêio adimiração
O meu nome circulou a Nação.
Surgiu uma escritora favelada.
Chama: Carolina Maria de Jesus.
E as obras que ela produs
Deixou a humanidade habismada
No inicio eu fiquei confusa.
Parece que estava oclusa
Num estôjo de marfim.
Eu era solicitada
Era bajulada.
Como um querubim.

Depôis começaram a me invejar.
Dizia: você, deve dar
Os teus bens, para um assilo
Os que assim me falava
Não pensava
Nos meus filhos.
(...)

- escrito em 6 de novembro de 1961. Meu estranho diário (1996), p. 151-153
  • A senhora sumiu! Esta rica Rica! Palavra que eu tenho nojo de ouvir! Quando eu vêjo um pedaço de doce devorado pelas formiga penso. Este pedaço de docê coincide comigo. Depois que publiquei Quarto de despejo.
- Meu estranho diário (1996), p. 142-143.


Quarto de Despejo editar

Observação: conforme nota do prefaciador do livro, Audálio Dantas, alguns erros de grafia cometidos por Carolina de Jesus foram mantidos.

  • "Percebi que no frigorifico jogam creolina no lixo, para o favelado não catar a carne para comer. Não tomei café, ia andando meio tonta. A tontura da fome é pior do que a do alcool. A tontura do alcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrivel ter só ar dentro do estomago."
- Quarto de Despejo, edição 10, São Paulo, editora Ática, 2014, página 44, observação: os erros de grafia fazem parte do original
  • "Ia catando tudo que encontrava. Ferro, lata, carvão, tudo serve para o favelado."
- Quarto de Despejo, edição 10, São Paulo, editora Ática, 2014, página 44.
  • "Fui na sapataria retirar os papeis. Um sapateiro perguntou-me se o meu livro é comunista. Respondi que é realista. Ele disse-me que não é aconselhavel escrever a realidade."
- Quarto de Despejo, edição 10, São Paulo, editora Ática, 2014, página 108.
  • "O brasileiro só é feliz quando está dormindo."
- Quarto de Despejo, edição 10, São Paulo, editora Ática, 2014, pág. 137.
  • "O que eu fico admirada é das almas da favela. Bebem porque estão alegres. E bebem porque estão tristes. A bebida aqui é o paliativo. Nas epocas funestas e nas alegrias."
- Quarto de Despejo, edição 10, São Paulo, editora Ática, 2014, pág. 139.
  • "As oito e meia da noite eu já estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com o barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo."
- Quarto de despejo (1960).